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Narrador e empresário, Luciano do Valle ampliou espaço do esporte na TV

Mauricio Stycer

19/04/2014 18h24

Esqueça o narrador dos últimos anos. A voz continuava poderosa e vibrante, mas era visível a perda de agilidade na identificação de jogadores e na descrição das jogadas. O Luciano do Valle que vai ficar na memória do "fã do esporte" é o das décadas de 80 e 90, especialmente.

Diferentemente de outros narradores, Luciano do Valle não era um grande inventor de bordões. "Não somos artistas, somos jornalistas", disse em uma entrevista recente à ESPN Brasil, explicando por que não usava bordões. Suas transmissões, carregadas de emoção, eram fundadas na descrição dos lances.

Um bom resumo do seu talento pode ser visto/ouvido nas transmissões dos jogos do Brasil na Copa de 1982. Diante de uma seleção dos sonhos, a empolgação do narrador corresponde exatamente ao que o espectador brasileiro estava vendo em campo.

Trabalhou na Globo (1971-82) e na Record (1982-83, 2003-06), mas foi na Band (1983-2003, 2006-14) que mostrou uma outra faceta do seu talento: a de promotor de esportes. Meio empresário, meio narrador, Luciano do Valle ampliou o espaço da cobertura esportiva do canal e ajudou a dar visibilidade a muitos atletas e a esportes como vôlei, basquete, automobilismo, boxe e, até sinuca.

Ao ajudar a Band a se tornar "o canal do esporte", em outros tempos, Luciano do Valle de certa forma antecipou a ideia de TV segmentada no Brasil, que ganharia corpo anos depois na TV paga. Não é pouca coisa.

Atualizado às 21h: No momento da morte de Luciano do Valle, a Globo se redimiu de um momento triste, ocorrido em 2012. Na ocasião, ao lembrar dos 30 anos da derrota do Brasil para a Itália na Copa de 1982, o "Esporte Espetacular" exibiu uma reportagem caprichada, incluindo até entrevista com Paolo Rossi. Mas, ao exibir lances do jogo, a emissora optou por colocar a narração dos radialistas Waldir Amaral e Jorge Cury, da Rádio Globo, e não o áudio original, com Luciano do Valle, então narrador da Rede Globo. Lamentei o fato aqui. Neste sábado, já na abertura do "Jornal Nacional", a emissora exibiu um lance de Brasil e Itália no Sarriá narrado por Luciano. A reportagem do telejornal mostrou mais uma vez os lances que o "Esporte Espetacular", dois anos atrás, suprimiu. Ainda no telejornal, os três principais narradores da emissora, Galvão Bueno, Cleber Machado e Luis Roberto, deram depoimentos sobre o colega.

Mais informações sobre a sua morte, ocorrida neste sábado (19), podem ser lidas aqui e aqui.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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