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“Câmera Record” faz homenagem dúbia a Renato Aragão

Mauricio Stycer

27/03/2014 15h15

Com Renato Aragão internado pela segunda vez em um hospital no Rio, enfrentando problemas de saúde, a Record exibiu na noite de quarta-feira (26) um programa especial dedicado à vida e carreira do humorista.

O "Câmera Record", nas palavras do apresentador Marcos Hummel, foi "uma homenagem a um dos humoristas mais queridos do Brasil". Uma homenagem dúbia, de gosto duvidoso, seria mais correto dizer.

Hummel fez graça com Aragão na abertura do programa. "O coração anda lhe pregando peças… Mas agüenta aí, ô psit, para a gente rir muito quando isso passar."

O programa mostrou diferentes faces do humorista, incluindo críticas e queixas a Aragão. Tudo jornalisticamente aceitável, mas em hora errada. Pelas circunstâncias, o programa teve aparência mais de obituário do que de homenagem.

Em Sobral (CE), uma irmã, Ivete, contou rindo que Didi mamou até os oito anos. Pelo tom descontraído com que contou histórias, ela provavelmente deu a entrevista antes da hospitalização de Aragão. Na mesma cidade, a repórter observou, com uma ponta de maldade: "As sobrinhas de Renato dizem que a relação do humorista com a família é muito próxima, mas como, se faz mais de 10 anos que Didi não visita Sobral?".

Em Sete Lagoas (MG), outro repórter entrevistou irmãos de Mauro Gonçalves (1934-1990), o Zacarias. "Por que o Renato Aragão ficou rico e o seu irmão não?", perguntou o jornalista. A resposta isenta o líder dos Trapalhões de qualquer "culpa", mas o programa conseguiu arrancar outra reclamação de uma irmã: "Nunca ninguém veio aqui, nada, sumiram todos. Essa atitude contraria a gente, pois nós perguntamos: que amizade foi essa?".

O jornalista que entrevistou a viúva de Mussum (1941-1994) também fez uma observação semelhante, como se Renato Aragão tivesse alguma obrigação de continuar amigo dos familiares dos seus colegas de trabalho. "Apesar da grande amizade, a viúva de Mussum garante que os laços foram cortados com a morte do humorista", disse o repórter.

Ao final, diante do hospital onde Aragão está internado, uma repórter deu informações, ao vivo, sobre o estado de saúde dele. "Nossa reportagem ouviu pessoas próximas à família do humorista, que disseram que o quadro de infecção dele é grave. Oficialmente, os médicos não confirmam essa informação."

Pelo tamanho da produção, que envolveu repórteres em cinco cidades, o "Câmera Record", com duração de 56 minutos, levou alguns meses para ficar pronto. Por que exibi-lo justamente agora?

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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