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Luiz Fernando Carvalho lembra que há lugar para Graciliano Ramos na TV

Mauricio Stycer

25/12/2013 11h53

Só consegui ver hoje, na calma do feriado, o especial "Alexandre e Outros Heróis", projeto de Luiz Fernando Carvalho, baseado em Graciliano Ramos, que a Globo levou ao ar na noite do dia 18.

Lamento não ter visto antes. Além da qualidade que Carvalho imprime a todos os seus trabalhos, este programa expõe um lado menos valorizado da obra de Graciliano, o seu olhar carinhoso e bem humorado sobre alguns tipos populares, no caso, um contador de histórias e o seu séquito.

Adaptado de dois contos, "O olho torto de Alexandre" e "A morte de Alexandre", com texto assinado por Luís Alberto de Abreu e pelo próprio Carvalho, o especial é protagonizado de forma memorável por Ney Latorraca. O elenco se completa com Marcelo Serrado, Flávio Bauraqui, Flávio Rocha, Marcélia Cartaxo e Lucy Pereira, todos excelentes.

Dias antes de o especial ir ao ar, o "Estadão" publicou uma entrevista com o diretor que é quase um manifesto cultural, em defesa de uma televisão mais original, sem a muleta da cópia de modelos estrangeiros, mais criativa e responsável. Reproduzo abaixo alguns trechos da conversa de Luiz Fernando Carvalho com a repórter Thais Arbex.

Sobre o humor de Graciliano
Um texto cômico não é só aquele que se encontra balizado entre programas de esquetes e seriados que emulam a estética americana. Graciliano Ramos faz falta à televisão, assim como muitas outras literaturas: é mais moderno do que os moderninhos de plantão, muito mais vivo, mais capaz de traduzir as contradições de nosso país sem apelar para as caricaturas.

Sobre a TV aberta no Brasil
O modelo está dando sinais de esgotamento. Precisamos pensar em uma televisão do futuro. Esta já passou. Estamos reproduzindo um modelo de cinquenta anos atrás!

Para onde ir
No meu modo de sentir, sua produção é erguida a partir dos anseios genuínos da população e não apenas reproduzindo, infindavelmente, consagrações imediatas do mercado.(…) Abraçar a responsabilidade de não formar apenas telespectadores, mas cidadãos.

O lugar de Carvalho na Globo
Meu caso não é de indiferentismo ou independência, é de solidão. E talvez seja isso que me garante uma certa objetividade. Não tenho atrás de mim ninguém com quem eu tenha interesses comuns a defender.

Criar ou copiar?
É preciso estimular essa criatividade. Só amadurecemos nossa técnica e nossa linguagem se formos capazes de criar mais e copiar menos.


Em tempo: A entrevista está publicada aqui. O programa registrou 19 pontos no Ibope em São Paulo, um bom número.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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