Até no fim “Sangue Bom” foge do óbvio e não faz concessão ao espectador
Mauricio Stycer
02/11/2013 05h01
"Sangue Bom" pode não ter representado uma maior inovação no gênero, mas será lembrada não apenas como uma novela muito divertida, mas também corajosa. Não teve medo de desenvolver temas ousados, tratou o espectador como adulto e raramente apelou a golpes baixos para agarrar a audiência.
O destino da personagem que passou 161 capítulos preocupada exclusivamente com a própria imagem, a atriz decadente Barbara Ellen (Giulia Gam), não poderia ter sido mais genial do que a entrada dela em um reality show, chamado "A Que Ponto Chegamos".
Entre todos os casais que apareceram felizes no último capítulo, apenas três não se beijaram. Eram formados por Filipinho (Josafá Filho) e Xande (Felipe Lima), Peixinho (Julio Oliveira) e Sininho (Tiago Martelli), Tabata (Samya Pascotto) e Vivian (Lu Camy). Coube a Tabata "explicar" a situação, citando Daniela Mercury e um trecho de "Música de Rua", aquela que diz: "Alegria agora, agora e amanhã, alegria agora e depois, e depois e depois de amanhã."
A manifestação contra a construção de um shopping na Casa Verde, na última sequência, é também um achado positivo (imagem no alto do texto). Em clima de festa, pacífico, ao som de "Toda Forma de Amor", de Lulu Santos, o encontro reitera uma imagem simpática, talvez idílica, exposta desde o primeiro capítulo, sobre a vida comunitária em um bairro fora do centro da cidade. Como diz a música: "A gente vive junto, e a gente se dá bem. Não desejamos mal a quase ninguém."
A audiência do último capítulo foi de 26 pontos, em São Paulo – o menor índice de um desfecho de novela das sete da Globo nos últimos quatro anos. Na média de seus 161 capítulos, "Sangue Bom" ficou em torno dos 25 pontos, longe do sucesso de "Cheias de Charme" (média final de 30), mas acima de "Guerra dos Sexos" (23), que a antecedeu.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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