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“Fio Maravilha” antecipou debate sobre pagamento de direitos a biografados

Mauricio Stycer

17/10/2013 13h09

Homenagem do cantor e compositor Jorge Ben Jor a um jogador que atuou pelo Flamengo no início da década de 70, a canção "Fio Maravilha" tem uma história interessante, que vale a pena ser lembrada neste momento em que se discute o pagamento de direitos a personagens de biografias.

Depois de alguns anos cantando a música, cujos versos descrevem um momento apoteótico do jogador ("Tabelou, driblou dois zagueiros / Deu um toque driblou o goleiro / Só não entrou com bola e tudo / Porque teve humildade em gol"), Ben Jor alterou a letra e passou cantar "Filho Maravilha".

A razão da mudança, sempre se disse, foi um processo movido pelo então jogador, cujo nome de batismo é João Batista de Sales. Em abril de 1994, a poucos meses da Copa nos Estados Unidos, encontrei Fio diante da pizzaria em que trabalhava como entregador, em San Francisco, na Califórnia.

A entrevista, com direito a uma foto que eu fiz de Fio segurando uma pizza, saiu na edição da "Folha" de 17 de abril de 1994. A certa altura da conversa, houve o seguinte diálogo:

Folha: Você sabe que Jorge Ben Jor tirou o seu nome da música?
Fio: Agora que ele tirou todo mundo já sabe quem é o Fio. Fiquei na lembrança do povo. Só pelo futebol, eu não seria tão conhecido.

Folha: Por que você processou Jorge Bem Jor?
Fio: Ninguém processa alguém que faz uma coisa boa para você.

Folha: O que aconteceu?
Fio: Eu procurei saber quais eram os meus direitos na época. O meu advogado procurou o Jorge Ben para saber se eu tinha direitos a receber. Ele estava muito ocupado, não atendeu a gente. Então, o advogado foi a Justiça saber quais eram os meus direitos.

Ou seja, Fio afirmou, então, que não processou Ben Jor, mas julgou que tinha direitos a receber, à maneira do que pensam, hoje, grandes nomes da música brasileira, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Djavan. Ben Jor reagiu cancelando a homenagem.

Agradeço ao jornalista Márvio dos Anjos pela lembrança do caso Fio-Ben Jor. A foto do músico é de Flavio Florido/UOL.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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