Record força a barra com drama do sushiman erótico no Faustão
Mauricio Stycer
14/10/2013 10h35
Promovida desde sexta-feira (11), a reportagem do "Domingo Espetacular", da Record, sobre as cenas de nudez exibidas pelo programa "Amor & Sexo", da Globo, seguiu o padrão de outros trabalhos supostamente jornalísticos da atração, destinados a atingir inimigos ou concorrentes dos donos da emissora.
Apesar da tentativa de dar um tom sério à reportagem, foi impossível não rir dos momentos em que o drama foi exageradamente forçado. Caso, por exemplo, da ligação feita pelo repórter entre os segundos de nudez mostrados em "Amor & Sexo" por volta da meia-noite de 3 de outubro de 2013 e a baixaria apresentada pelo "Domingão do Faustão", há 16 anos, em 26 de outubro de 1997.
"Esta não é a primeira vez que um programa da mesma emissora causa polêmica com cenas de nudez. Em 1997, os brasileiros se chocaram com imagens exibidas em pleno domingo à tarde, um horário em que milhões de crianças estão em frente à televisão", apontou o repórter.
Para quem não se lembra, a Record recordou: "Em cena, ao vivo, um grupo de atores cercado por mulheres nuas, com os órgãos genitais cobertos apenas por comida japonesa. Tornou-se um símbolo de mau gosto e apelação na TV."
"As conseqüências vieram logo depois", diz o repórter. "Sofri as perseguições", conta o sushiman. "A Vigilância Sanitária, por decreto, fechou o restaurante. E fechou por 15 dias. Fui preso. Porque é uma prática que não é permitida. Paguei fiança, saí, fui absolvido."
E não parou por ai o seu drama, informa o repórter da Record: "Após o escândalo, ele se separou da mulher, justamente uma das modelos que apareceram no programa. Fechou o restaurante, sofreu de depressão e viveu por um tempo no Japão. De volta ao Brasil, ele não esquece o que sofreu".
Diz o sushiman: "Quem ficou com a conta, o prejuízo, fui eu. Nunca me perguntaram se eu estava precisando de algo, se estava tudo bem comigo ou com a minha família." Não poderia faltar, para completar, um comentário sobre "Amor & Sexo": "Eu vi o encerramento do programa, com as pessoas nuas e todo mundo batendo palma. Ai eu pensei. Puxa, ao longo desses anos, será que as coisas mudaram?"
Muita coisa mudou nestes 16 anos. Mas tenho a impressão que a Record não aprendeu muito.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.