Em livro, Frota descreve sua vida como sucessão de desastres
Mauricio Stycer
11/10/2013 05h01
O livro se intitula "Identidade Frota", mas poderia se chamar "Relato de um Desastre". Recém-lançada, a autobiografia do ator Alexandre Frota descreve sem dó nem autopiedade uma sucessão impressionante de erros profissionais, fracassos amorosos, atos de violência e crime que cometeu ou testemunhou, além de relatar em minúcias o seu mergulho desastroso no mundo das drogas.
Escrito com a ajuda do jornalista Pedro Henrique Peixoto, o livro traz o subtítulo "A estrela e a escuridão 5.0". A proposta é fazer o balanço franco de uma vida que, por motivos que Frota agora parece entender, deu completamente errada. Aos 50 anos, dizendo-se livre da cocaína e tendo a sensação de que recebeu um aviso divino, o ator conta que "a escuridão foi embora".
Quem talvez melhor entendeu Frota foi Boni, então o homem-forte da Globo: "Alexandre, existem atores que são personalidades e personalidades que são atores. No teu caso, a tua personalidade é muito maior que o teu trabalho como ator, então, quando se referem a você, vão sempre se referir à novela do Frota e não do personagem que você estiver interpretando. É mais difícil para você."
Frota fez meia dúzia de novelas, entre as quais "Roque Santeiro" e "Perigosas Peruas", atuou em minisséries ("Chapadão do Bugre"), fez pontas no cinema "(Garota Dourada"), participou da primeira edição da "Casa dos Artistas", no SBT, e da "Quinta das Celebridades", em Portugal, mas se deu conta de que ficará conhecido mesmo pela dedicação ao cinema adulto: foram 19 filmes, nos quais teve sexo com 78 mulheres e um travesti. "Mudei a história do cinema pornô no Brasil", diz, daquele seu jeitão confiante.
A certa altura do livro, depois de descrever o tanto que Frota desperdiçou de dinheiro e as incontáveis roubadas em que se meteu, Peixoto observa: "Incrível como um cara cheio de malandragem, picardia, criado no subúrbio carioca, consegue levar tanto balão, tanta volta e se mete em tantas batalhas judiciais".
Em mais de uma passagem da autobiografia, Frota lamenta que nunca tenha contado com alguém para gerenciar a sua carreira. Talvez tenha faltado também um acompanhamento pessoal, que atenuasse, a julgar pelo que relata, o comportamento autodestrutivo que manteve por algumas décadas.
"Identidade Frota" é também, como costuma ocorrer em livros do tipo, uma oportunidade para acertos de conta e pequenas vinganças do autor. Frota fala mal de diretores da Globo, da Record e do SBT com quem trabalhou e, na sua visão, foram culpados por desvios em sua trajetória.
Para quem gosta do ator, ou tem curiosidade sobre o tipo, "Identidade Frota" é um livro que se lê com facilidade. E, embora termine de forma piegas, com a redenção mística de Frota, não é uma obra de propaganda religiosa ou de auto-ajuda. É somente a história de um sujeito doido, bom de papo e engraçado que, infelizmente, se deu mal.
Veja AQUI alguns trechos do livro.
"Identidade Frota – A estrela e a escuridão 5.0" (BB Editora, 296 págs., R$ 54,90)
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
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