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Por que uma novela boa como Pecado Mortal bate recordes negativos de Ibope

Mauricio Stycer

08/10/2013 02h38

Exibidos os primeiros nove capítulos de "Pecado Mortal", planejava escrever sobre as qualidades que enxergo na trama de Carlos Lombardi, mas a baixa audiência da novela, com índices oscilando entre 6 e 8 pontos, me obriga a tentar refletir sobre o que pode estar não funcionando.

Na verdade, me pergunto se o problema não é justamente o que "Pecado Mortal" tem de melhor, ou seja, o seu texto. Inteligente, irônico e ágil, sem ser didático, exige atenção permanente do espectador. Sem fazer concessão ao politicamente correto, descreve de forma crua um mundo em que basicamente se luta por poder, dinheiro e sexo.

Depois de um rápido prólogo em 1941, a trama de Lombardi se passa em 1977, no Rio de Janeiro. Até o momento, o foco principal da história é a relação conflituosa de duas famílias, uma comandada por um italiano, outra por descendentes de árabes, pelo controle do jogo do bicho na cidade.

Também ocupa um lugar central na história a polícia, dividida entre a inoperância e a corrupção, e há ainda a Justiça, representada por uma promotora determinada, sem medo de enfrentar os inimigos da lei, onde eles estiverem.

Além disso, Lombardi já lançou várias iscas. O mocinho Carlão (Fernando Pavão), casado com a promotora Patricia (Simone Spoladore) tem um mistério ainda por esclarecer. A implacável corregedora da polícia, Das Dores (Denise del Vecchio), convive com dois sobrinhos picaretas. A enfermeira Laura (Carla Cabral), à noite faz strip-tease, tudo em nome da criação do filho. O advogado de um dos bicheiros, Vergueiro (Eduardo Lago), tenta convencer a filha Leila (Juliana Didone) a casar com o filho do seu cliente. E por aí vai.

Além da dubiedade de muitos personagems e dos diferentes dramas familiares, como não poderia faltar numa novela de Lombardi, há um desfile de mulheres bonitas e homens sem camisa. "Pecado Mortal", em resumo, tem todos os ingredientes para agradar. Por que não está?

A novela da Record tem enfrentado alguns problemas. Primeiro, herdou uma baixa audiência do folhetim que a antecedeu no horário, "Dona Xepa", trama infantil, própria para a faixa das 18h. Segundo, a Globo alterou nas últimas semanas o horário de encerramento de "Amor à Vida", estendendo-a até 22h30 ou depois. Terceiro, ainda que de bom nível, tanto a produção quanto a direção, por dispor de menos recursos e experiência, ainda não atingiram o padrão de qualidade da rival.

Por fim, eu diria que, na comparação com "Amor à Vida", a trama das 21h da Globo, "Pecado Mortal" é uma novela muito mais adulta – não apenas pelo tema e pelo texto, mas pelo que exige de reflexão do espectador.

Veja abaixo uma entrevista que fiz com Carlos Lombardi para o programa "UOL Vê TV", na qual ele fala do processo que o levou à Record, depois de décadas na Globo, e sobre as suas intenções com "Pecado Mortal".

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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