Datena negocia ao vivo na TV e soluciona sequestro na Grande SP
Mauricio Stycer
28/11/2012 18h33
O apresentador José Luiz Datena negociou ao vivo, em seu programa, na Band, com um homem que mantinha a família em cativeiro, numa casa em Diadema, na Grande São Paulo. Por mais de 20 minutos, conversou por telefone com o homem, chamado Joel, que ameaçava a mãe e a irmã com uma faca.
"Sou contra esse tipo de coisa", disse Datena. "Mas a polícia pediu e eu percebi que era um cara de bem". Procurando tranquilizar o sequestrador, o apresentador disse que acompanharia o seu caso, depois que ele liberasse as reféns. Em diversas ocasiões, Datena frisou que só aceitou o papel de negociador para atender a um pedido da polícia.
A transmissão do caso levantou a audiência do "Brasil Urgente". No momento de maior pico, alcançou 9 pontos no Ibope, deixando o programa em segundo lugar, atrás apenas da Globo. Na véspera, a média de audiência foi de 5 pontos. Cada ponto equivale a 60 mil residências na Grande São Paulo.
Solucionado o sequestro, Datena pediu para deixar o programa, afirmando que estava esgotado. E repetiu mais de uma vez que era contra agir como agiu. "Fiz uma coisa que normalmente não faço e isso me custou muito caro. Estou me sentindo muito mal", afirmou ao passar o bastão para Marcio Campos.
"É uma carga emocional muito grande. Quando eu digo que é difícil fazer esse programa, ninguém acredita. Vocês vão me desculpar porque é uma coisa que eu realmente não faço. Eu preciso deixar o programa. Não estou me sentindo muito bem", acrescentou Datena
A negociação foi dramática. "Você tem que confiar no seu amigo aqui. Você tem que confiar em mim como eu estou confiando em você", disse Datena. "A responsabilidade é toda sua, Datena", respondeu Joel, a certa altura.
Joel se apresentou como mestre de obras. "Assisto seu programa. Sou seu fã", disse a Datena no início da conversa. "Joel é o nome do meu filho", respondeu o apresentador, iniciando a negociação. "Não sou marginal, Datena", disse ele. "Eu sei, Joel", respondeu.
Consciente da gravidade da situação em que se envolveu, Datena mais de uma vez disse ao sequestrador: "Eu coloquei em risco a minha carreira". Também se explicou: "Tô falando porque senti que você é um cidadão honesto, de bem. Se não, você vai me deixar numa situação muito ruim", pediu.
Em um momento, o sequestrador disse que temia "virar estatística", ao que Datena o assegurou: "Não vou deixar virar estatística. Estou te prometendo que vou acompanhar o seu caso. Só te peço, pelo amor de Deus, que você saia daí".
Joel também manifestou preocupação com a polícia de Diadema. Disse que não queria se entregar a policiais da cidade. Para assegurá-lo, Datena pediu à câmera da Band que mostrasse a placa do carro da policia presente no local. Era de São Paulo. "Está vendo?", perguntou Datena ao sequestrador, que estava acompanhando o próprio caso pela TV.
Em diversos momentos, no esforço de convencer Joel a se entregar, Datena apelou para a religião. "Vamos sair com a mamãe e a irmãzinha. Ouça sua mãe que é Deus que está falando através dela", disse ao sequestrador.
Veja o vídeo com o desfecho do caso:
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Atualizado às 20h30: conversei com Datena, que disse: "Me arrependi profundamente de fazer aquilo".
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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Sobre o blog
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