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No final de “Amor Eterno Amor”, até o médico cético se "converte" à fé nos poderes divinos

Mauricio Stycer

07/09/2012 19h09

Com todo respeito aos fãs de "Amor Eterno Amor", achei muito ruim a novela, encerrada nesta sexta-feira (7/9). Em especial, me incomodou o esforço da autora, Elizabeth Jhin, em fazer propaganda de religiões, experiências espirituais e práticas de caráter místico, tentando convencer o espectador do poder da fé.

Neste contexto, um personagem, o médico Gabriel (Felipe Camargo), teve um lugar importante na história. Ele representou o papel da ciência, do homem racional, cético em relação aos "dons" de premonição da própria filha, Clara (Klara Castanho).

Diferentemente dos vilões, todos também sem fé, Gabriel tinha a função de fazer um contraponto de aparência respeitável na novela. Todos os demais personagens positivos da trama manifestaram simpatia ou exibiram dons de caráter espiritual, místico e religioso em algum momento.

Mas, não satisfeita, a autora Elizabeth Jhin fez com que até Gabriel se rendesse aos poderes do além. Deu-se no penúltimo capítulo, numa cena em que o médico contracenou com o herói Rodrigo (Gabriel Braga Nunes).

Ambos estavam discutindo um sonho de Clara, segundo o qual a mocinha Miriam (Letícia Persiles) estava sendo mantida em cativeiro por Fernando (Carmo Dalla Vecchia) dentro de um farol.

Gabriel: Eu entendo que você esteja impressionado com os pesadelos que você teve com o farol, com as sessões de regressão, agora com o que a Clara te falou, mas… Isso é fantasioso demais.
Rodrigo: A polícia já foi avisada. Já está investigando o desaparecimento da Miriam pelas vias normais. Eu sei que, para você, é difícil entender e aceitar, mas eu confio nas intuições da Clara.
Gabriel: Eu também estou propenso a acreditar que a Clara tenha um dom. Vai contra tudo que eu sempre pensei e acreditei, mas eu me rendi. Eu acho hoje em dia que as coisas não precisam ter uma explicação racional. Enfim… Mas, nossa… o Fernando levando a Miriam pra um farol por causa de vidas passadas?
Rodrigo: Eu entendo. Entendo a sua dúvida. Eu respeito você, Gabriel. Mas eu vou atrás desse farol.

Não precisava ver o resto do capítulo para saber que, sim, o vilão escondia a mocinha em um farol, como sonhou Clara.

No capítulo final, a participação de Gabriel se resumiu a uma cena. Ele descobre que a mulher,  Beatriz (Carolina Kasting), está grávida. Clara tem uma visão e diz que eles estão esperando gêmeos. "Se a Clara falou, né?", diz o médico, finalmente, convertido.

Em tempo: Para um balanço mais abrangente da novela, recomendo o texto do Nilson Xavier: Discurso doutrinário fez "Amor Eterno Amor" parecer uma novela de auto-ajuda.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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