Atores de “Máscaras” divulgam carta em defesa da novela e do autor
Mauricio Stycer
02/07/2012 13h27
Lançada em abril, "Máscaras" frustrou a Record, obtendo números de audiência muito baixos. O diretor da trama foi substituído, a novela mudou de horário, sendo empurrada para o final da noite, e o seu final, previsto inicialmente para o início de 2013, foi antecipado.
Pouco mais de um mês depois da estreia, o próprio autor classificou "Máscaras" como um "equívoco" e disse não se considerar injustiçado pelas críticas ou pela baixa audiência. "Ao contrário me sinto 'justiçado' – cometi um erro grave e estou pagando por isso. É uma pena que eu tenha errado em minha última novela. 'Máscaras' vai para meu rol de equívocos como 'Os Gigantes'. Eu gostaria de acordar desse pesadelo", disse, na ocasião..
Há inúmeras referências na carta à baixa audiência da novela. "Nós não aceitamos a avaliação de nosso trabalho apenas através do índice/Ibope, o que significaria colocar o trabalho dos atores no mesmo patamar de componentes de um reality show. O Ibope é um índice de mercado, comercial, compreendemos isso, mas nosso trabalho é artístico", escrevem.
Num ambiente que privilegia a fofoca e a reclamação anônima, esta carta de parte do elenco da novela constitui um documento raro, talvez histórico. Concordando-se ou não com os temos do texto, ele mostra um grupo de atores engajados numa causa comum, pedindo um outro olhar para o trabalho no qual estão engajados. Merecem ser ouvidos.
Consultado pelo blog, Muniz observou: "Eu disse pelo telefone a uma atriz que me enviou que eu ficava muito sensibilizado mas que temia que a divulgação pudesse ser mal interpretada". E acrescentou: "Eu me sentiria muito mal de pedir que a carta não fosse divulgada. Respeito muito o direito de expressão de todos."
Veja a íntegra da carta:
CARTA DE AMOR DOS ATORES DE "MÁSCARAS"
Inconformados com o tratamento dado ao nosso trabalho, em vários tipos de mídia, nos manifestamos e queremos alertar para algo que não está sendo percebido.
No começo os críticos reclamavam que a novela era difícil, feia até. Acatamos, Lauro abriu mais a trama, lutamos, perdemos um diretor, ganhamos outro, uma NOVA novela está no ar. Isso, estranhamente, quase ninguém comenta.
1 – É do conhecimento de todos que uma novela que vai ao ar após às 23h30m , não tem a mesma audiência de uma outra que vai ao ar às 21h. No entanto, a veiculação sobre o índice de audiência de "Máscaras", não vem com esta informação.
2 – Nós não aceitamos a avaliação de nosso trabalho apenas através do índice/Ibope, o que significaria colocar o trabalho dos atores no mesmo patamar de componentes de um reality show. O Ibope é um índice de mercado, comercial, compreendemos isso, mas nosso trabalho é artístico.
4 – Não estamos incomodados por qualquer crítica desfavorável, respeitamos o gosto de cada um. Afinal, o que seria da música "brega", se todos gostassem de Mozart? O que seria de Van Gogh que só vendeu após a morte? O que nos dói é saber que esta que será a última novela de Lauro Cesar Muniz tem sido tratada de forma tão equivocada por alguns veículos da mídia, sem o cuidado de prestar atenção ao texto deste grande dramaturgo, cuja obra plenos de amor e garra representamos. Além disto trata-se do nosso ofício e do nosso mercado de trabalho.
5 – Temos encontrado uma reação calorosa nas ruas e, sabemos, isto não acontece com um trabalho sem audiência. A TV de hoje tem tantos canais, tanta programação, que não se pode cobrar das pessoas que acompanhem tudo e, talvez por isso, não tenham percebido o que estamos alertando agora. Mas, tendo feito já as mudanças que grande parte da mídia tanto criticou e talvez estivessem certos em alguns aspectos, seria honroso que no mínimo comentassem de forma mais respeitosa, e opinassem inclusive sobre a "nova novela" quem vem sendo exibida, chama-se "Máscaras" e é boa pra caramba.
1.Barbara Bruno; 2.Bemvindo Sequeira; 3.Carlos Bonow; 4.Domingos Antonio; 5.Eliete Cigarini; 6.Fernando Pavão; 7.Flavia Monteiro; 8.Giusepe Oristânio; 9.Heitor Martinez; 10.Iris Bruzzi; 11.Jean Fercondini; 12.Jonas Bloch; 13.Jorge Pontual; 14.Livia Rossy; 15.Luiza Curvo; 16. Marcelo Escorel; 17.Marcio Killing; 18.Nicola Siri; 19.Nina de Pádua; 20. Paloma Duarte; 21. Pâmella Vidal; 22.Petronio Gontijo; 23.Raul Gazolla; 24. Renato Livera; 25.Robert Bomtempo; 26.Sabrina Costa; 27.Tatsu Carvalho; 28.Theo Fox.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.