Assistir TV ao vivo é hábito em queda nos EUA
Mauricio Stycer
15/05/2012 12h13
Jornalista especializado em mídia, David Carr escreveu nesta segunda-feira, no "New York Times", que assistiu a apenas dois minutos e um segundo de televisão no mês de maio – o tempo de duração do famoso Kentucky Derby, transmitido pela NBC no último dia 5.
Como assim? Um crítico de mídia que não vê TV? Calma. Carr explica no texto que, em sua casa, todos continuam assistindo televisão. O que morreu foi o hábito de assistir ao vivo. "Eu continuo sendo fã de alguns produtos das grandes redes de TV; eu só não os consumo mais quando eles são exibidos", escreve.
Carr e sua família fazem parte de uma nova realidade – a dos consumidores que gravam as atrações que planejam assistir ou, quando é o caso, compram por diferentes sistemas "pay per view", conectados diretamente à TV.
Segundo o crítico, 50% dos lares americanos terão algum sistema de gravação de TV até 2013. Hoje, metade das casas nos EUA já dispõe da possibilidade de ver programas em sistema "pay per view" (ou "on demand").
O instituto Nielsen, que mede a audiência das TVs nos EUA, estima que até 2015 terão sido comercializados em todo o mundo cerca de 350 milhões de aparelhos que permitem conexão direta entre televisão e internet – tipo Apple TV.
Neste novo mundo, explica Carr, a medição da audiência não registra mais a realidade do que está sendo visto. Tanto o Nielsen quanto o Ibope, no Brasil, apontam o que o espectador está vendo ao vivo em determinado momento.
A queda crescente no número de aparelhos ligados não significa que menos gente esteja consumindo programas de TV – significa, com certeza, que há menos espectadores assistindo ao vivo.
Ainda assim, as grandes redes de TV seguem atraindo o grosso da publicidade. As quatro maiores redes americanas tiveram um faturamento de US$ 9 bilhões em 2011, um crescimento entre 2% e 4% no ano. As emissoras a cabo, que superaram as grandes redes pela primeira vez, faturaram US$ 9,6 bilhões.
Em tempo: David Carr é o personagem principal do documentário "Page One", que retrata a luta do "New York Times" para sobreviver nestes tempos de jornalismo digital. Ele virá ao Brasil em julho, para participar do congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). O texto que comento neste post pode ser lido aqui (em inglês).
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
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