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Por que a revelação do segredo de Tereza Cristina em 'Fina Estampa' causou decepção

Mauricio Stycer

05/02/2012 17h11

Revelado, finalmente, depois de meses de expectativa, o segredo de Tereza Cristina (Christiane Torloni), a vilã de "Fina Estampa", causou decepção e provocou críticas de muitos espectadores.

Depois de 140 capítulos, o público soube que Tereza Cristina não é filha e herdeira de uma tradicional família carioca, mas sim da empregada que os serviu por anos e, pior, morreu louca.

Até então, para evitar esta terrível revelação, a vilã da novela moveu mundos e fundos, sofreu chantagens variadas, encomendou o assassinato da jornalista Marcela (Suzana Pires) e tentou se livrar de todos que se aproximaram do segredo.

No Twitter, decepcionados, muitos leitores compararam a revelação ao famoso "segredo de Gerson", alimentado por Silvio de Abreu durante meses de "Passione" (2010). Contra quem imaginava as coisas mais terríveis, o autor mostrou que personagem de Marcelo Anthony era viciado em ver cenas de sexo pela internet.

A revelação do segredo de Tereza Cristina também provocou protestos de pais de filhos adotivos. "Fico muito preocupado como eles estão interpretando o fato de, na novela, isto ser tratado como uma tragédia familiar e ainda cheia de preconceitos pela origem da família biológica da personagem", escreveu um pai para mim.

Entendo a preocupação e também a decepção de muitos espectadores, mas creio que o pavor da personagem com a possível descoberta do seu segredo faz todo o sentido em "Fina Estampa".

Como Aguinaldo Silva já detalhou em entrevistas, os vilões de suas novelas são inspirados em um célebre desenho animado. "O bom vilão é canastrão, faz o telespectador rir. É um pouco como o Tom do desenho animado 'Tom & Jerry'. Ele esmaga aquele ratinho mil vezes por dia, prepara as armadilhas mais ardilosas, mas sempre leva a pior, e todo mundo morre de rir".

Nazaré Tedesco ("Senhora do Destino"), Altiva ("A Indomada"), Perpétua ("Tieta") e Maria Regina ("Suave Veneno") são as vilãs que Aguinaldo Silva considera desta estirpe. "Eram todas vilãs de desenho animado", diz no livro "Autores – Histórias da Teledramaturgia" (Editora Globo), de 2008.

Em "Fina Estampa", não apenas Tereza Cristina, mas todos que gravitam em torno dela, são personagens infantis. O mordomo Crô (Marcelo Serrado), o motorista Balthazar (Alexandre Nero), o segurança Ferdinand (Carlos Machado), sua tia Iris (Eva Wilma), seu filho René Jr. (David Lucas) e a empregada Marilda (Katia Moraes) não são personagens que devem ser levados a sério.

Parênteses: Balthazar, no início da novela, serviu ao propósito de discutir um tema sério, a violência familiar, mas depois de enquadrado pela mulher, Celeste (Dira Paes), colocou os dois pés no núcleo cômico de Tereza Cristina.

No mundo de desenho animado em que vive Tereza Cristina, o seu segredo é coisa séria. Mas só nele.

Em tempo: Este texto foi publicado originalmente aqui, no UOL Televisão.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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