“As Brasileiras” começa com texto apelativo em ritmo de comédia pastelão
Mauricio Stycer
03/02/2012 06h01
Seria precipitado avaliar uma série chamada "As Brasileiras", formada por 22 episódios independentes, apenas com base no programa de estreia. Em todo caso, "A Justiceira de Olinda" reuniu problemas suficientes para fazer temer pelo conjunto do projeto.
O programa é derivado de "As Cariocas", uma série em dez episódios, exibida pela Globo em 2010, por sua vez livremente inspirada no livro, com o mesmo título, de Sergio Porto (1923-1968).
Assim como sobrou muito pouco do livro de Porto na série criada por Daniel Filho, parece haver quase nada de "As Cariocas" em "As Brasileiras", um projeto do mesmo diretor.
A leveza e o bom humor do seriado original foram substituídos, ao menos neste primeiro episódio, por uma mão pesada que deu à história um tom de comédia pastelão, embalado por um texto altamente vulgar e apelativo.
O argumento de "A Justiceira de Olinda" já sinalizava que o público não deveria esperar sutilezas do programa. Acreditando estar sendo traída, a morena (Juliana Paes) castra o marido (Marcos Palmeira), para só depois descobrir que cometeu um engano.
Por cerca de 30 minutos, o público foi submetido a uma coleção de piadas infames sobre o objeto em questão. "Será que o foguete sobe?". "Cadê o penduricalho?" Ou ocorreu um "acidente nos países baixos". E por aí foi.
Também pareceu pouco animador ver a maneira como "As Brasileiras" se limitou a reproduzir clichês e cartões postais de Olinda. O texto de Marcos Bernstein incluiu pérolas como "Olinda tem 400 mil privilegiados" e "em Olinda o galo já acorda cantando frevo".
Do ponto de vista da audiência, "As Brasileiras" foi bem-sucedida, superado a minissérie "Rei Davi", da Record, cujos primeiros três episódios haviam batido a programação da Globo. Mas, para quem esperava qualidade de um programa com a grife de Daniel Filho, ficou a desejar.
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- Em tempo: Este texto foi publicado originalmente aqui, no UOL Televisão.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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