Programa da Record que levou ET Bilu a sério agora coloca em dúvida grupo religioso
Mauricio Stycer
14/11/2011 15h52
Diferentemente do que fez em Corguinho, quando ouviu não apenas o ET Bilu mas também o fundador do Projeto Portal, onde ele costuma aparecer, em nenhum segundo dos 39 minutos da reportagem exibida no último domingo a Record deu voz aos religiosos acusados de "uma prática misteriosa, conhecida como cair no espírito".
O programa, aliás, não conseguiu nem mesmo definir o objeto de sua investigação. Chamou-o de "movimento religioso polêmico", "doutrina", "seita", "movimento evangélico", "cai-cai" e disse que ele é comandado por "pastores", "ministros" e "missionários".
O ponto alto da reportagem foi uma entrevista com um homem apresentado como "fundador" da religião e que hoje a renega. "Por que ele faz tanta questão de falar com a nossa equipe?", perguntou a repórter que foi encontrá-lo no Canadá. "Paul Gold acaba de driblar a morte. Ele diz que Deus o salvou da morte para que ele pudesse dar esta entrevista. Está pronto para contar tudo".
"O diabo usa o cair do espírito para cegar as pessoas", disse Gold. "Isso não é Deus, é um esquema do diabo", completou. O seu depoimento foi ilustrado com a imagem de uma mulher rindo durante um culto em 1994 (imagem acima).
A reportagem usou imagens encontradas em sites, infiltrou repórteres com câmeras escondidas em cultos no Brasil e entrevistou ex-fiéis, além de um psiquiatra e um médico. "Nossa equipe investigou durante duas semanas os bastidores destes cultos", informou o programa.
Sobre o fundador da igreja, a Record observou: "As principais redes de TV dos EUA investigam o pastor do cai-cai há mais de 20 anos…" Mas reconheceu que até hoje as acusações exibidas não foram "suficientes para derrubá-lo. Só os fieis caem"
O jornalista Ricardo Feltrin observou no F5 que o ataque do "Domingo Espetacular" ao culto "cair no espírito" é um novo capítulo de uma guerra já deflagrada por Edir Macedo, fundador da Igreja Universal e dono da Record, contra algumas correntes pentecostais.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.