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Programa mostra as feridas ainda não cicatrizadas do RPM

Mauricio Stycer

05/11/2010 09h53

Programa de ótima qualidade, mas trajetória errática pela grade da Globo, "Por Toda a Minha Vida" vem já há quatro anos apresentando perfis de grandes nomes da música brasileira por meio da recuperação de imagens históricas, depoimentos de especialistas e a encenação, com atores, de momentos importantes na vida e na carreira dos personagens em foco.

Esta semana, pela primeira vez, o programa arriscou abordar a trajetória de artistas vivos. Quer dizer, o foco foi um grupo de rock, o RPM, cuja existência durou poucos anos, mas seus integrantes estão aí para contar – ou tentar contar – o que aconteceu. Dirigido por Thiago Teitelroit e roteiro de George Moura, apresentou 45 minutos de grande impacto – infelizmente, imagino, para poucos, já que começou às 23h40.

Vinte e cinco anos depois de aparecerem feito cometa no show business brasileiro, os quatro músicos da banda ainda parecem buscar respostas tanto para o súbito sucesso quanto para o rápido desaparecimento.

"A gente vivia bem bêbado. Todo mundo consumia drogas naquela época", diz P.A. Pagni, o baterista. "A droga provocou uma mudança de personalidade e potencializou o mal que havia em cada um. E começamos a jogar o nosso sonho fora", conta o guitarrista Fernando Deluqui.

Luiz Schiavon, tecladista e compositor, ainda fala com ressentimento dos seus conflitos com Paulo Ricardo. Já o bandleader, no seu esforço de encarar tudo que ocorreu como natural (na sua visão, apenas mais um clichê do mundo do rock), acaba sugerindo que ele próprio se transformou numa caricatura.

Ao final, P.A. diz que sem a cocaína a história da banda talvez tivesse sido outra. "O RPM é um filme sem final", observa. "Dando restart, é só chamar", diz Deluqui.

O ponto fraco de "Por Toda a Minha Vida", na minha opinião, costuma ser a encenação de episódios da história. É um recurso que, na falta de cenas de arquivo, ajuda a dar sentido à narrativa, mas quase sempre soa pouco convincente, canhestro mesmo, por recorrer a atores com pouca experiência.

Na semana passada, na exibição do programa sobre Adoniran Barbosa, pela primeira vez esse problema não ocorreu. O escolhido para interpretar cenas da vida do sambista paulistano foi um ator de grandes recursos, Marcelo Airoldi, o que acabou dando uma outra dimensão ao especial.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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