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Como outros pioneiros da TV, Sherman fez de tudo um pouco e não quis parar

Mauricio Stycer

17/10/2019 13h05

Morto nesta quinta-feira (17), Maurício Sherman (1931-2019) integra o time dos pioneiros da televisão no Brasil. É daquelas figuras que fizeram de tudo um pouco, convivendo com precariedade técnica e poucos recursos, mas mesmo assim plantaram inúmeras sementes.

Quem lê um resumo da trajetória de Sherman se impressiona com a quantidade de programas que criou e dirigiu bem como o número de emissoras em que trabalhou. Atuou na Tupi (duas vezes), Paulista, Globo (três vezes), Excelsior, Band e Manchete.

Como é comum a figuras que ocuparam o cargo de diretor num percurso tão longo e com tantas curvas e mudanças de rotas, Sherman deixou muitos amigos e outros tantos ressentimentos.

O Sherman mais lembrado é o diretor de programas de humor. Talvez seja injusto e com certeza é uma visão incompleta de sua trajetória. Mas dá uma ideia da sua importância para a televisão. Foram vários ao longo de mais de 40 anos.

O último foi o "Zorra Total", que comandou por 16 anos, de 1999 até o fim, em 2015, quando o humorístico foi totalmente reformado, e virou "Zorra". O nome foi mantido por medo da Globo de perder o antigo público, mas não havia na nova atração qualquer traço do programa que Sherman dirigiu.

Há inúmeros relatos sobre a insatisfação de Sherman com a mudança e o seu afastamento. Para toda a turma que o acompanhava, incluindo atores e técnicos, foi um golpe duro e injusto. Não vejo desta forma, mas compreendo o sentimento. Neste sábado, o novo "Zorra" vai homenagear o diretor da primeira versão.

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Alguns dados do Memória Globo que ajudam a visualizar o incrível percurso de Sherman:

Em 1966, na Globo, dirigiu os programas humorísticos "Riso Sinal Aberto" e "Bairro Feliz". E contribuiu para a chegada dos redatores de humor Max Nunes e Haroldo Barbosa.

No início dos anos 1970, comandou uma equipe de criação na TV Tupi, composta por Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes (este trio, mais Max Nunes e Roberto Freire criaria na Globo, alguns anos depois, o seriado "A Grande Família").

De volta à Globo, Sherman dirigiu um dos humorísticos mais famosos da história da emissora, "Faça Humor, Não Faça Guerra", com Jô Soares, Renato Corte Real, Luis Carlos Miéle, Paulo Silvino e Sandra Bréa, entre outros.

Participou da equipe de criação do Fantástico, em 1973, e foi um dos diretores do programa por três anos. Dirigiu também o "Moacyr Franco Show" até 1977. Em 1981, dirigiu "Chico Anysio Show" e "Os Trapalhões" por dois anos.

Na Manchete, na década de 1980, Sherman lançou Xuxa e Angélica.

Voltou à Globo em 1988, como diretor executivo da Central Globo de Produção. Nos 12 anos seguintes, desempenhou várias funções: foi diretor de núcleo do horário das 18 horas; diretor do musical Globo de Ouro; diretor artístico do Fantástico; diretor do departamento de Projetos Especiais; e diretor da área de controle de qualidade.

De 1989 a 1991, esteve à frente de Os Trapalhões. Em 1994, quando atuou como supervisor do Video Show, Sherman foi responsável pela transformação da atração em um programa diário. Em 2001, foi diretor do Domingão do Faustão. Entre 1999 e 2015, comandou o humorístico Zorra Total. Foi o seu último trabalho na TV.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.