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Miss Infantil faz sentido para Silvio Santos e para uma parte do público

Mauricio Stycer

09/10/2019 17h54

O site Nexo publicou esta semana uma reportagem sobre Silvio Santos, tentando avaliar o impacto de suas mais recentes atitudes, em especial o concurso Miss Infantil, que gerou muitos protestos e é alvo de dois inquéritos, do Ministério Público do Trabalho (MPT) em São Paulo e da Promotoria de Justiça de Osasco.

O repórter Estêvão Bertoni pediu a minha opinião sobre o assunto, que foi incluída na reportagem. Destaco abaixo o que eu penso a respeito:

O padrão de comunicação
"A base do Programa Silvio Santos desde os anos 1960, na Globo, e de toda a programação das suas próprias emissoras, TVS (1976) e do SBT (1981), sempre foi eminentemente popular, no bom e no mau sentido. Silvio estabeleceu um padrão inimitável de comunicação com o público, e segue reproduzindo-o sem mudanças há cinco décadas. Ele se coloca sempre no lugar do espectador: faz perguntas simples, finge ignorar assuntos complexos, improvisa, é implacavelmente sincero com os convidados e acredita que os erros que comete transmitem uma imagem mais humanizada de si."

O concurso infantil
"É neste contexto que deve ser entendido o Miss Infantil. É algo que faz sentido na cabeça dele, que está na TV há 55 anos, sem alterar a forma de ver as coisas. Isso inclui expor crianças a situações constrangedoras, ser machista com suas convidadas, fazer piadas infames, humilhar participantes. Essas atitudes são inaceitáveis, em 2019, para muita gente. Mas não para todas. O seu programa é vice-líder de audiência há muitos e muitos anos. Perto de completar 89 anos (em dezembro), Silvio dá sinais de que não vai mudar a esta altura da vida e aceita, aparentemente sem medo, perder parte do respeito acumulado ao longo da carreira, o que inclui parte da audiência."

A relação com o poder
"O atual momento me parece ainda mais complexo para ele em matéria de imagem e prestígio por causa do apoio que tem demonstrado ao governo Bolsonaro. Silvio apoiou todos os presidentes do Brasil desde o início dos anos 1970, incluindo os generais que comandaram o país durante a ditadura militar, mas parece mais entusiasmado hoje do que em outros momentos de sua trajetória de adulação aos poderosos."

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.