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Saída de Sandra reforça padrão da Globo sobre a idade das apresentadoras

Mauricio Stycer

09/08/2019 12h41

A apresentadora Sandra Annenberg, que será substituída por Maria Julia Coutinho no Jornal Hoje

Em março de 2018, perto de completar 50 anos, Sandra Annemberg disse a Gisele Alquas, no UOL: "Não penso em sair do jornalismo. Do jeito que está hoje está bom. Eu amo o 'Jornal Hoje'. Quanto tempo permaneço? Não sei. Enquanto eu sentir esse frio na barriga minutos antes de entrar no ar, estou aqui. Ou enquanto a Globo quiser uma apresentadora de cabelos brancos no ar."

A resposta veio 17 meses depois, nesta sexta-feira (09). Não, a Globo não quer uma apresentadora de cabelos brancos no comando de um de seus principais telejornais. Seguindo uma tendência que afeta mais as mulheres do que os homens, Sandra foi substituída por uma jornalista mais jovem, a talentosa Maria Julia Coutinho, de 40 anos.

A questão da idade e da aparência das apresentadoras de telejornal da emissora é um tema que frequenta os bastidores e, com frequência, vem a público. Já a idade dos homens que comandam telejornais não é algo que seja tratado, ao menos publicamente.

Em junho de 2016, Mariana Godoy me disse, numa entrevista, que as mulheres enfrentam muita dificuldade para seguir apresentando programas depois dos 45 anos. "Saí da Globo para antecipar a nota de corte", revelou.

Fátima Bernardes deixou de apresentar o "Jornal Nacional" em dezembro de 2011. Foram 14 anos na bancada. Ela tinha 49 anos quando saiu rumo ao entretenimento (no ano seguinte, estreou o seu programa matinal na Globo).

Outro nome sempre lembrado é o de Carla Vilhena, que deixou de apresentar telejornais na Globo em 2013, aos 46 anos. Em 2018, ela se afastou da emissora para seguir uma carreira independente. Carla nunca disse que a idade afetou a sua trajetória na Globo, mas reclamou que sofria pressão para cortar o cabelo.

Uma semana antes da saída de Sandra do "Hoje", a Globo promoveu a transferência de outra veterana, Isabela Scalabrini, de 62 anos. No comando do "MG1", da Globo Minas, havia 21 anos, a jornalista agora se dedicará a reportagens especiais. Ela foi substituída por Aline Aguiar, uma jovem talentosa, que atuava na emissora, como repórter, desde 2011.

Diferentemente do que ocorre na teledramaturgia, que exige papéis de acordo com a aparência física, a questão da idade não deveria influenciar na escolha de apresentadores de telejornais. No jornalismo, a experiência acumulada deveria ser um valor positivo, tanto para homens quanto para mulheres.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.