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Volta de “Cordel Encantado” lembra que as novelas precisam ser mais curtas

Mauricio Stycer

14/01/2019 10h38

Timóteo (Bruno Gagliasso), Açucena (Bianca Bin) e Jesuíno (Cauã Reymond) em cena de "Cordel Encantado"

Pode ser apenas uma coincidência, mas algumas das melhores novelas das 18h exibidas nesta década tiveram duração abaixo da média. "Cordel Encantado" (2011), de Duca Rachid e Thelma Guedes, que estreia nesta segunda-feira (14) no Vale a Pena Ver de Novo, teve 143 capítulos.

Mesmo assim, esta encantadora novela não conseguiu evitar, como escrevi na época, a típica enrolação que acomete todo folhetim, a chamada "barriga", nem foi capaz de desenvolver bons conflitos alternativos ao tema principal da trama – a luta do mocinho Jesuíno (Cauã Raymond) contra o vilão Timóteo (Bruno Gagliasso) pelo coração da princesa Açucena (Bianca Bin). Teria sido uma novela espetacular com duas dezenas de capítulos a menos.

De "Escrito nas Estrelas", lançada em abril de 2010, até "Orgulho e Paixão", encerrada em setembro de 2018, a Globo exibiu 17 novelas nesta faixa horária, nesta década. Somando os capítulos de todas, chega-se a uma duração média de 154 capítulos.

Outras tramas que também apreciei no período estão abaixo ou exatamente na média. São os casos de "A Vida da Gente" (2011-12), de Licia Manzo, que teve 137, "Meu Pedacinho de Chão" (2014), de Benedito Ruy Barbosa, a mais curta, contada em apenas 96 capítulos, e "Sete Vidas" (2015), também de Licia, com 106. Já "Lado a Lado" (2012-13), de João Xinenes Braga e Claudia Lage, teve 154.

Isso não quer dizer que novelas mais longas sejam necessariamente ruins. Também gostei de novelas com duração acima da média. São os casos de "Êta Mundo Bom" (2016), de Walcyr Carrasco, a mais longa neste período, com 190 capítulos, e "Novo Mundo" (2017), de Thereza Falcão e Alessandro Marson, que teve 160, além de "Joia Rara" (2013-14), também de Duca Rachid e Thelma Guedes, com 173.

Creio que este assunto, a duração das novelas, está mais atual do que nunca. Saltam aos olhos os casos de novelas, em todas as faixas horárias, que têm sido esticadas além da conta. Isso implica em histórias sem força, repetições de tramas, desgaste de fórmulas, insistência em clichês surrados e, claro, rejeição do público.

Numa época como a atual, em que a produção de séries vive um momento de glória em todo o mundo, faz cada vez menos sentido a exibição de novelas longas demais.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.