Documentário da BBC tenta explicar o Brasil de junho de 2013 a Bolsonaro
Vai ao ar neste sábado (12), à 0h30, no canal pago BBC World News, a primeira parte de um documentário ambicioso que busca entender o que aconteceu nos últimos cinco anos no Brasil, das manifestações de junho de 2013 à eleição e posse de Jair Bolsonaro.
Em três episódios de 23 minutos, "What Happened to Brazil" (O que aconteceu com o Brasil) é o primeiro documentário a tentar analisar este tumultuado período, que inclui a operação Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff, o governo Temer, a morte da vereadora Marielle Franco, a greve dos caminhoneiros, a prisão de Lula, a intervenção militar no Rio, a intensa polarização política que dividiu o país e a eleição de 2018.
O documentário foi idealizado pelo jornalista brasileiro Kennedy Alencar. "Nos últimos cinco anos, cobri como repórter e comentarista esses fatos que mudaram a história do Brasil", diz Kennedy. "Senti necessidade de fazer uma reflexão mais profunda sobre esse período sem a correria do dia a dia. A ascensão da extrema-direita não veio do nada", afirma.
A forma como "What Happened to Brasil" foi realizado é também ilustrativa das possibilidades de produção audiovisual hoje no mundo. Kennedy é creditado como repórter, entrevistador e produtor executivo. Sua produtora, a K.doc, foi contratada pela BBC World News e, no Brasil, buscou apoio da RedeTV! para a realização. O roteiro foi aprovado pela BBC e a finalização, incluindo a narração, em inglês, foi feita em Londres. Dan Kelly é o outro produtor-executivo do programa.
Kennedy entrevistou quatro ex-presidentes: Fernando Henrique Cardoso, Lula (por carta, já que ele não foi autorizado pela Justiça a falar), Dilma Rousseff e Michel Temer. Também são ouvidos o ministro Ricardo Lewandowski, presidente do STF na época do impeachment, e o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. Bolsonaro e Sergio Moro foram convidados a dar entrevistas, mas recusaram. Moro respondeu por escrito à carta de Lula.
No primeiro episódio, intitulado "O fim do sonho", Dilma analisa as manifestações de 2013, detonadas a partir do aumento das tarifas de ônibus, como consequência do sucesso, na sua visão, dos dois governos Lula e do seu primeiro mandato: "O fim da miséria é só o começo. Só o começo de novas exigências". A cientista política Esther Solano enxerga em 2013 "o germe" dos confrontos entre esquerda e direita que iriam acontecer na sequência.
Sobre a ascensão de Bolsonaro, FHC observa: "As pessoas têm medo. Então, quando vem uma pessoa simples como Bolsonaro, que é um capitão que acha que resolve com fuzil, muitos aplaudem". O ex-presidente vê o protagonismo que o então deputado começa a ganhar em 2014 como fruto das manifestações do ano anterior. "Bolsonaro está baseado num sentimento, mais do que numa estrutura", diz.
Na visão de Kennedy, para o público brasileiro o documentário "é um convite a refletir sobre os acontecimentos recentes da história do país, que radicalizaram a opinião pública e nos trouxeram até o momento atual".
Diz ainda o jornalista: "O Brasil despontou no cenário mundial como uma potência e tudo se esfacelou em menos de uma década. No exterior, muita gente não entendeu nada. O país perdeu a sua relevância para o resto do mundo e ficou prisioneiro de um enredo interno de crise econômica e instabilidade política. Compreender o que aconteceu me parece fundamental para evitar o aprofundamento da crise e um retrocesso civilizatório".
O primeiro episódio da série vai estrear na BBC News (canal de informação só do Reino Unido) na noite desta sexta-feira (11), às 21h30 (horário de Londres). O episódio 2, "Lava Jato e 'o golpe'", será exibido no Reino Unido no dia 18. E o terceiro, "Nação dividida", em 25 de janeiro.
A BBC World News, disponível globalmente, exibirá o primeiro episódio (horários de Brasília) no sábado (12) à 0h30 e às 6h30 da manhã, no domingo (13) às 12h30 e às 19h30, na segunda (14) à 1h30 e na terça (15) às 8h30. No Brasil, a emissora pode ser vista por assinantes de determinados pacotes das operadoras Sky (canal 172), Net (202) e Vivo (410, satélite, e 62,cabo).
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