Em tempo de eleição, “Amor & Sexo” debate com Bolsonaro mesmo sem querer
Coincidência ou não, a estreia da 11ª temporada de "Amor & Sexo" nesta terça-feira (09), exatamente entre o primeiro e o segundo turno da eleição de 2018, acabou dando outra dimensão ao programa comandado por Fernanda Lima.
Com uma pauta progressista e liberal em matéria de sexualidade, feminismo e inclusão racial, entre outros tópicos, "Amor & Sexo" fez um contraponto claro e aberto à agenda conservadora, em defesa da família, defendida publicamente por Jair Bolsonaro (PSL).
Sempre que pode, como repetiu segunda-feira (08) no "Jornal Nacional", o vencedor do primeiro turno sublinha que a sua candidatura está do lado "da família brasileira, que tanto clama para que seus valores sejam respeitados". Na última quarta-feira (03), em entrevista no Rio, a apresentadora já havia confrontado abertamente este discurso. "Quem pode falar em nome da família brasileira senão ela própria? A gente tá um pouco cansado desse povo falando…", observou.
No episódio de estreia, como já ocorreu em outras temporadas, "Amor & Sexo" defendeu que "cota não é esmola", pediu maior "representatividade", propôs "banir racismo" e cobrou "respeito pra todo mundo". Num momento que ilustrou o discurso, dois homens se beijaram no palco.
Em algumas outras passagens, o programa reproduziu temas de compreensão mais difícil para o grande público, como um discurso sobre "objetificação do corpo" e outro em defesa do sexo seguro: "Usar camisinha também é um ato político".
São momentos em que o programa não consegue cumprir o que a própria Fernanda enxerga como um objetivo: "A gente precisa colocar esses assuntos para a televisão, numa linguagem que as pessoas entendam, assimilem, se divirtam. Que agrade as pessoas, mas não fuja dos temas, dos assuntos", disse na entrevista.
Como escrevi em 2017, às vezes "Amor & Sexo" abusa do didatismo e parece um "telecurso". Mas, de fato, em outubro de 2018, querendo ou não, o programa ganhou outra tonalidade. "A gente encontra discursos de ódio, absolutamente retrógrados, que vem com a intenção de se chocar com esta tentativa de liberdade. Mas acho que o bem vai vencer. Espero", disse ela.
Questionada sobre o seu voto no primeiro turno, Fernanda não disse em quem votaria, mas deixou claro sua oposição a Bolsonaro: "Priorizo na escolha o 'Ele não'. Qualquer coisa menos o fascismo", disse. E deu a entender que não votava em Haddad: "Eu sou a favor da democracia e da alternância do poder. Busco uma terceira via."
Observação (acrescentada às 12h): Alterei o título original deste texto ("Exibido em período eleitoral, Amor & Sexo debate abertamente com Bolsonaro") por concordar com a argumentação da Globo que ele poderia provocar um mal-entendido e passar a ideia de haver um debate real entre o programa e o político, o que não há (a afirmação do título não era literal, apenas sugeria uma imagem). A atual temporada foi inteiramente gravada antes da eleição.
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