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Críticas a Globo, piadas de Daciolo e ajuda a Bolsonaro: a eleição na TV

Mauricio Stycer

06/10/2018 14h22

Debate na Gazeta foi o único, entre os sete realizados, a não ter nem Bolsonaro nem Haddad


Nunca houve tantos debates entre candidatos à Presidência no primeiro turno. Foram sete – Band, RedeTV!, Gazeta (em parceria com o Estadão), Aparecida, SBT (em parceria com UOL e Folha), Record e Globo. O recorde anterior eram seis, ocorridos na eleição de 1989. Não faltaram, também, entrevistas, sabatinas e o inescapável horário eleitoral gratuito, este ano significativamente modificado em relação a eleições anteriores. Abaixo, algumas curiosidades, destaques positivos e momentos que gostaríamos de esquecer desta eleição na TV:

Propaganda mais curta: A reforma eleitoral de 2015 encurtou a duração do horário eleitoral obrigatório, de 45 para 35 dias. E também modificou a distribuição do tempo, privilegiando o tamanho que os partidos têm no Congresso. Isso fez com que, entre os candidatos à Presidência, três (PSDB, PT e MDB) ficassem com 78% do tempo total, deixando os outros dez com o restante. Com 44% do tempo total, Geraldo Alckmin conseguiu o feito de terminar a campanha com menos intenções de votos do que quando começou. Foi um sinal eloquente da importância menor que a TV teve nesta eleição.

O duelo que não houve: Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), os dois primeiros colocados nas pesquisas eleitorais, não se encontraram em nenhum dos sete debates, como mostra um levantamento do repórter Gustavo Fioratti. O petista só entrou na disputa eleitoral em 11 de setembro e perdeu os três primeiros encontros (Band, RedeTV! e Gazeta). Já o candidato do PSL, hospitalizado em 6 de setembro, em consequência de um ataque a faca que sofreu em Juiz de Fora, só participou dos primeiros dois. Realizado em 9 de setembro, o debate na Gazeta, portanto, foi o único que não contou com a presença de nenhum dos dois.


Alívio cômico: Presente apenas em alguns debates, Cabo Daciolo (Patriota) chamou a atenção pela postura incomum, os comentários fora da pauta e a inflexão da voz de pregador religioso. Oscilando entre momentos de sinceridade absoluta e outros de completa falta de sentido, o candidato ajudou a baixar a tensão e garantiu instantes de humor nos eventos em que esteve presente. Glória a Deus (ou "Deuxxx", como diz com sotaque bem carioca)!

Ponto eletrônico: Uma entrevista de Bolsonaro à GloboNews no início de agosto entrou para os anais desta eleição. As menções do candidato à emissora levaram a apresentadora, Miriam Leitão, a ler um texto de repúdio no fim da entrevista. O problema é que a mensagem foi ditada à jornalista pelo ponto eletrônico, expondo-a a uma situação desconfortável. O ex-colega William Waack ironizou o ocorrido em um comentário no You Tube: "Não tenho chefe no ponto".


Interrogatórios no JN: A série de entrevistas de William Bonner e Renata Vasconcellos com os cinco candidatos mais bem posicionados nas pesquisas (Bolsonaro, Haddad, Ciro, Alckmin e Marina) teve enorme repercussão negativa. Os encontros lembraram mais debates, duelos ou interrogatórios, com a dupla de telejornal adotando postura agressiva e inquisidora. Em algumas, como diante de Ciro, a dupla do JN ocupou mais de 40% do tempo. As entrevistas foram muito pouco esclarecedoras, incômodas e, no limite, inúteis mesmo.


Confrontos com a Globo: A postura de Bonner e Renata nas entrevistas com os presidenciáveis acabou expondo a própria emissora. Incomodados ou ofendidos com questões, Ciro, Bolsonaro e Haddad, em diferentes momentos, fizeram críticas à Globo, constrangendo os apresentadores. No caso das observações do candidato do PSL, a emissora emitiu duas notas oficiais.


Record ajuda Bolsonaro: A três dias da eleição, a televisão foi palco de uma situação inusitada. Enquanto a Globo exibia ao vivo o último debate com os candidatos, a Record levou ao ar uma entrevista gravada com Bolsonaro. Ausente do debate por recomendação médica, o candidato mereceu tratamento cordial e generoso da emissora de Edir Macedo, e ainda a ajudou a registrar números altos no Ibope.


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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.