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“Você é mais poderoso do que eu”, diz Alckmin a Bonner no JN

Mauricio Stycer

29/08/2018 22h03

Entrevistado pelo "Jornal Nacional" nesta quarta-feira (29), o candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) se viu pressionado a responder a questões espinhosas que envolvem o período em que foi governador de São Paulo, em temas como segurança, transporte e saúde.

Uma das questões disse respeito a Laurence Casagrande Lourenço, que foi secretário de Logística e Transportes e presidente da Dersa (estatal paulista de transportes) no governo Alckmin. Ele está preso desde junho sob suspeita de favorecer empreiteiras na obra do trecho norte do Rodoanel.

O tucano defendeu o executivo e classificou como injustas as acusações. Diante da insistência do apresentador William Bonner, que detalhou aspectos do inquérito que acusa Casagrande, Alckmin tentou fugir do assunto com uma resposta curiosa: "Eu não tenho essas informações que você tem, até porque estão em segredo de Justiça. Você é mais poderoso do que eu. Consegue".

A entrevista também foi marcada por um erro dos entrevistadores. Bonner e Renata Vasconcellos questionaram Alckmin sobre o apoio que estaria recebendo de Fernando Collor (PTC). Na verdade, o PSDB de Alagoas está apoiando o ex-presidente na eleição para o governo do Estado, mas o PTC não faz parte da coligação que apoia Alckmin (veja mais aqui).

Bonner e Renata mantiveram o padrão exibido nas duas primeiras entrevistas, com Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL): muitas questões, interrupções e contextualizações no esforço de pressionar o candidato e não deixar que ele discurse e faça propaganda. Alckmin não teve sossego ao longo dos 27 minutos da entrevista (veja mais aqui).

Globo responde a Bolsonaro pela segunda vez

Ao final do JN de quarta-feira (29), Bonner leu uma nota oficial da Globo, respondendo a uma frase dita por Bolsonaro para Renata na véspera. "Você vive em grande parte aqui de recursos da União. São bilhões que recebem o Sistema Globo da propaganda oficial do governo", disse o candidato.

O apresentador respondeu: "É uma afirmação absolutamente falsa. A propaganda oficial do governo federal, e de suas empresas estatais, corresponde a menos de 4% das receitas publicitárias e nem remotamente chega à casa do bilhão. Os anunciantes, privados ou públicos, reconhecem na TV Globo uma programação de qualidade, prestigiada por enorme audiência, e por isso se valem dela para levar ao público mensagens sobre seus serviços e produtos. Fazemos esse esclarecimento por apreço à verdade, ao nosso público e aos nossos anunciantes" (veja no vídeo acima).

A questão, porém, tem nuances. Como mostra um levantamento do site Poder 360, o Grupo Globo recebeu R$ 10,2 bilhões em publicidade federal de 2000 a 2016, e Bolsonaro fez uma declaração genérica, sem citar um período específico de tempo. Segundo o último dado disponível, em 2016 a publicidade estatal federal na emissora foi de R$ 323,8 milhões. Falando em termos anuais, este dado confirma a afirmação da Globo.

Foi a segunda resposta oficial em 24 horas. No dia anterior, ao final do telejornal, Bonner respondeu ao comentário de Bolsonaro sobre o apoio de Roberto Marinho ao golpe de 1964. Disse que a emissora reconhece que este apoio foi um erro.

Atualizado em 30/8, às 11h.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

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