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Cancelamento de série nos EUA mostra “tolerância zero” com o racismo

Mauricio Stycer

29/05/2018 16h51


Na manhã desta terça-feira (29), a atriz e comediante americana Roseanne Barr comentou no Twitter a notícia de que Valerie Jarred, assessora do ex-presidente Barack Obama, supostamente ajudou a encobrir espionagem da CIA. Roseanne escreveu: "Irmandade Muçulmana & Planeta dos Macacos tiveram um filho = VJ".

Diante da péssima repercussão do tuite, racista e islamofóbico, ela tentou argumentar: "É uma piada". Não colou. Algumas horas depois, a rede de TV ABC anunciou o cancelamento da série que Roseanne protagoniza, uma sitcom com o nome dela no título.

Channing Dungey, presidente da ABC Enterteinment, soltou uma nota curta, dizendo: "A declaração de Roseanne no Twitter é detestável, repugnante e incompatível com nossos valores. Decidimos cancelar a série dela". Um pouco depois, o CEO da Disney, dona da ABC, Bob Iger, reforçou a decisão: "Só havia uma coisa a fazer aqui, e essa foi a coisa certa".

Channing Dungey é a primeira mulher negra a ocupar um cargo tão alto na indústria de entretenimento americana. Roseanne já havia dado inúmeras declarações polêmicas, de cunho racista, antissemita e homofóbico antes.

A série "Roseanne" foi exibida originalmente entre 1988 e 1997. Em 2017, a ABC encomendou um revival – nove episódios da 10ª temporada foram gravados e exibidos este ano. Uma 11ª temporada, com 13 episódios, havia sido encomendada em março – e acaba de ser cancelada.

Logo depois do anúncio da ABC, foi a vez da agência ICM, que representa Roseanne, anunciar que não iria mais trabalhar com a comediante por causa de seu tuite "vergonhoso e inaceitável". Em uma mensagem, a empresa disse considerar que "o que ela escreveu é antitético aos nossos valores centrais".

O produtor executivo e showrunner da série, Bruce Helford, também criticou Roseanne: "Fiquei pessoalmente horrorizado e entristecido com os comentários, que de forma alguma refletem os valores das pessoas que trabalharam tão duro para fazer desta série icônica o que ela é ".

A rápida reação da ABC e o repúdio generalizado em Hollywood à declaração de Roseanne revelam "tolerância zero" contra o racismo num momento crítico nos EUA. Não faltam acusações de racismo e xenofobia contra o próprio presidente Donald Trump.

Um caso que tem algum paralelo com esse ocorreu no Brasil em novembro de 2017. A Globo afastou William Waack da função de apresentador do "Jornal da Globo" horas depois do vazamento de um vídeo de cunho racista no qual ele diz: "Tá buzinando por quê, seu merda do cacete? Não vou nem falar, porque eu sei quem é… é preto. É coisa de preto!". Waack argumentou, posteriormente, que foi uma brincadeira e lamentou a "covardia" da "mídia tradicional" diante de "grupos organizados no interior das redes sociais".

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

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