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Alberto Dines é autor de livro sobre os antepassados de Silvio Santos

Mauricio Stycer

22/05/2018 12h41

Alberto Dines, morto nesta terça-feira (22) aos 86 anos, está sendo lembrado, com justiça, por sua dupla atuação como jornalista – como repórter, editor e colunista em diferentes veículos e por sua reflexão sobre o próprio ofício.

Dines dirigiu a redação do "Jornal do Brasil" em um dos períodos mais importantes e criativos do jornal, entre 1962 e 73. Também trabalhou nas revistas Manchete e Visão, nos jornais Última Hora, Tribuna da Imprensa, Diário da Noite e Folha de S.Paulo, no semanário O Pasquim e na editora Abril.

No segundo campo, o da crítica do jornalismo, assinou a partir de 1975 a coluna "Jornal dos Jornais", na "Folha", e criou em 1996 o site "Observatório da Imprensa". O site teve um importante desdobramento em 1998, ao virar um programa de televisão na então TV Educativa. Também escreveu vários livros sobre jornalismo, entre os quais "O Papel do Jornal", reeditado e atualizado várias vezes.

Uma terceira área de atuação foi a da pesquisa histórica e literária. Dines escreveu "Morte no Paraíso", uma biografia do escritor austríaco Stefan Sweig, que se exilou no Brasil, escapando da perseguição aos judeus na Europa, e se suicidou em Petrópolis, em 1942. Também é autor de "Vínculos de Fogo", uma biografia do dramaturgo Antônio José da Silva, conhecido como o Judeu, vítima da Inquisição portuguesa, que o levou à fogueira em 1739.

Em Portugal, em meio às pesquisas para esta obra sobre o dramaturgo, Dines desviou um pouco do assunto e escreveu um outro livro, "O Baú de Abravanel". Ele minimiza o trabalho, chamando-o de "crônica", mas é possivelmente a principal referência, em português, sobre os antepassados de Silvio Santos.

Em especial, Dines se dedica a reconstituir a fascinante trajetória de dom Isaac Abravanel (1438-1508). Misto de filósofo, financista e diplomata, ele assessorou reis em Portugal, Espanha e Itália. Um dos seus gestos mais famosos foi a tentativa, mal-sucedida, de convencer os reis Fernando e Isabel a cancelarem o decreto que, em 1492, determinou a expulsão dos judeus da Espanha.

Publicado originalmente em 1990, o livro se encerra com um agradecimento a Silvio Santos, a quem ele não conhecia. "Sem ele, estas fatias do passado ficariam esquecidas e os fatos, tantas vezes mencionados a respeito de seus ancestrais, não ganhariam esta nova camada de informações".

Dines faz uma breve reflexão sobre a trajetória do próprio Silvio, em especial a sua tentativa de se candidatar à Presidência, no ano anterior. E termina o livro com as seguintes palavras: "Oxalá tenha a oportunidade de atuar em funções mais edificantes".

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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