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Globo rejeita critério de representatividade racial na escalação de elenco

Mauricio Stycer

30/04/2018 14h46


As primeiras chamadas destinadas a promover "Segundo Sol", próxima novela das 21h da Globo, com estreia prevista para 14 de maio, não tiveram o efeito esperado. Em vez de atiçarem a curiosidade, provocaram críticas. A principal delas é que a trama de João Emanuel Carneiro se passa na Bahia e, pelo que já mostrou, conta com um elenco formado majoritariamente por atores brancos.

Apenas um ator negro, Fabrício Boliveira, apareceu com algum destaque nas cenas exibidas até agora. Os protagonistas da trama são vividos pelos atores Emílio Dantas, Vladimir Brichta, Giovanna Antonelli e Adriana Esteves. Uma lista com 26 atores divulgada pela Globo indica que apenas três são negros.

As críticas dizem respeito, basicamente, à falta de representatividade deste elenco. Na Bahia, segundo dados do IBGE, divulgados em 2013, 76% dos habitantes se declararam pretos ou pardos. O índice dos que se declaram pretos, 17,1%, é o maior registrado no país.

A discussão faz sentido e já tomou as redes sociais, como mostrou Cristina Padiglione em seu site. Ainda no domingo (29), perguntei à Globo o que o autor da novela estava achando destas críticas. Recebi em resposta nesta segunda (30) uma nota da Comunicação da emissora, na qual ela rejeita a representatividade racial como critério de escalação de elenco.

"Os critérios de escalação de uma novela são técnicos e artísticos. A Globo não pauta as escalações de suas obras por cor de pele, mas pela adequação ao perfil do personagem, talento e disponibilidade do elenco. E acredita que esta é a forma mais correta de fazer isso", diz o texto.

Mas dá a entender que é possível esperar por novidades: "Uma história como a de 'Segundo Sol', também pelo fato de se passar na Bahia, nos traz muitas oportunidades e, sem dúvida, reflexões sobre diversidade na sociedade, que serão abordadas ao longo da novela, que está estruturada em duas fases. As manifestações críticas que vimos até agora estão baseadas sobretudo na divulgação da primeira fase da novela, que se concentra na trama que vai desencadear as demais. Estamos atentos, ouvindo e acompanhando esses comentários, seguros de que ainda temos muita história pela frente!"

Críticas semelhantes ocorreram em agosto de 2016, à época do lançamento de "Sol Nascente", de Walter Negrão, Suzana Pires e Julio Fischer. A novela das 18h contava com um importante núcleo japonês, vivido por Luis Melo e Giovanna Antonelli. Na ocasião, um manifesto de atores orientais pediu o fim da "discriminação étnica" na TV.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.