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Por que “Deus Salve o Rei” é uma novela chata

Mauricio Stycer

24/03/2018 05h01


Investimento importante da Globo em 2018, "Deus Salve o Rei" já passou do capítulo 60 e ainda não empolgou. Não lembra, nem remotamente, "Game of Thrones". Não faz alusão aos dias atuais. Não é, tampouco, uma novela engraçada. Nem mesmo uma comédia romântica digna desse nome. Continuo tentando gostar da novela, vejo quase diariamente, mas não consigo superar a chatice da trama. Vejo vários problemas na novela:

Vilã mal caracterizada: Quem faz mover a trama é Catarina (Bruna Marquezine), com as suas maldades. Mas não consigo compreender os motivos dela. Por que ela é má e ambiciosa? Por que criou uma guerra entre dois reinos? Por que traiu o pai, sempre bondoso com ela?

Atriz fraca: Não bastasse a personagem ser mal desenhada, Bruna Marquezine está penando para encontrar o jeito de interpretar Catarina. Começou com o queixo inclinado para cima, dando um tom caricatural à vilã. Depois, tentou humanizá-la, mas o texto não ajuda. Sempre acho que a princesa má é uma paródia.

Mocinho cansado: Afonso (Romulo Estrela) parece sofrer de depressão. Nada o empolga. Abdicou de ser rei pelo amor por Amália (Marina Ruy Barbosa), mas está sempre olhando para amada com cara de sono ou choro. Sinto a mesma coisa ao ver as suas cenas.

Mocinha empolgada: A falta de sintonia do casal principal aumenta por conta da empolgação de Amália. A mocinha está sempre um tom acima de todos os outros personagens, como se estivesse em outra novela. Aliás, a sua caracterização seria bem apropriada para "Orgulho e Paixão".

Rei perdido: Espero que Deus salve Rodolfo (Johnny Massaro), mas até agora, nada. O personagem é o mais perdido da novela. Às vezes, entra no modo bobo da corte e legisla sobre vagas para carroças no reino. Às vezes, fala sério e manda o seu exército matar milhares de adversários do outro reino. Personagem essencial na trama, ainda não descobriu o tom a adotar.

Falta de história: "Deus Salve o Rei" é sobre o quê? Ainda não entendi. Vejo capítulos inteiros com histórias bobas e diálogos de provocar sono em torno do ciúme de Catarina. Ou a falta de autoestima do rei Rodolfo. Selena (Marina Moschen), inicialmente uma personagem com pegada feminista, enveredou para o ramo dos poderes místicos. Lucrécia (Tatá Werneck) ainda não descobriu o que fazer na novela – agora virou freira. Afonso e Amália não saem do chove não molha. O vilão Virgilio (Ricardo Pereira) é uma sombra que aparece de tempos em tempos.

Humor: No início da novela, escrevi que só o humor salvaria a novela das 19h. Já não acho mais possível "Deus Salve o Rei" virar uma comédia. A novela apostou no romance entre os protagonistas, atrapalhado pela vilã, e não vejo muito como sair disso. Mas, ao menos, que nos divirta.

Outros núcleos: Às vezes, o que salva uma novela é aquele núcleo paralelo, sem muita relação com a trama principal, mas cuja história é divertida, os personagens são bons ou os atores brilham. Nem isso tem em "Deus Salve o Rei".

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.