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“Golpe da barriga” repetido mostra preguiça e descaso do autor da novela

Mauricio Stycer

16/02/2018 23h03

Consumou-se, finalmente, no capítulo desta sexta-feira (16), o "golpe da barriga" tramado pela ginecologista Tônia (Patrícia Elizardo) para reconquistar o delegado Bruno (Caio Paduan), seu ex-marido. Esperando o filho de um garimpeiro, ela fez uma grande entrada na casa dos ex-sogros e, diante de todos anunciou: "Tô grávida!"

Raquel (Erika Januza), a juíza inteligente, que passou em primeiro lugar no concurso, abandonou Bruno, sentindo-se traída e considerando inaceitável a situação. Nádia (Eliane Giardini), mãe do delegado, festejou, evocando a obrigação do filho de ficar com Tônia em nome da "família". E ainda chamou a juíza de "Miss Quilombo", sem provocar qualquer tipo de indignação em nenhum personagem.

Para piorar, não custa lembrar que esta é a segunda vez que Tônia dá o mesmo "golpe da barriga" em Bruno. Na primeira fase da novela, ela usou truque idêntico, por sugestão de Nádia, forçando o rapaz a se casar com ela – naquela situação, a gravidez foi inventada.

É muita preguiça do autor repetir o mesmo truque para um mesmo personagem da novela. Walcyr Carrasco parece estar pouco se importando com esta falta de imaginação.

Também acho surpreendente ele apresentar tantos personagens mal construídos como neste núcleo. Não sobra um. Todos parecem idiotas.

Uma médica ginecologista agir como Tônia é difícil de engolir. Uma juíza inteligente como Raquel acreditar nesta história é duro de aceitar. Um delegado burro e banana como Bruno cair neste golpe duas vezes é inacreditável. O racismo de Nádia ser tratado com naturalidade é uma ofensa. A complacência de Gustavo (Luis Melo), o juiz corrupto, com toda esta situação é uma pilhéria.

É novela, dirão os fãs. Claro. É novela. Mas é novela muito mal escrita.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.