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Em “Lazinho com Você”, Lázaro Ramos busca mostrar quem ele representa

Mauricio Stycer

10/12/2017 16h55


A estreia de "Lazinho com Você" neste domingo (10) confirmou o que foi prometido: um programa colaborativo, nascido em um site e guiado pela proposta de uma "agenda positiva". Gravado quase inteiramente nas ruas, sob a batuta de Lázaro Ramos, contou histórias, exibiu muita gente filosofando sobre a vida e reproduziu uma dezena de vídeos de dança feitos por anônimos. Até grafismos caseiros foram ao ar.

O cuidado de dar crédito a cada um dos colaboradores buscou reforçar a mensagem de que Lázaro Ramos não está fazendo demagogia quando diz: "Cheguei, não. Chegamos. Porque esse programa não é meu, é nosso. Nós vamos fazer tudo juntos." Será?

Parece honesta e simpática esta ambição, mas não creio que seja o mais importante. Outros programas, em TVs educativas e na própria Globo, já se aventuraram por estes caminhos visíveis no primeiro episódio de "Lazinho com Você".

Ao explicar a ideia do quadro "Me representa", Lázaro Ramos contou que está sempre ouvindo de fãs que se tornou um símbolo. "Você me representa", é a frase que escuta. Daí veio a proposta de brincar e se colocar no lugar do outro, buscando ajudá-lo.

Na estreia, o ator se colocou na posição de uma mulher que está vivendo uma crise conjugal. Com informações passadas por ela e fantasiado de mulher, encontrou-se com o marido e "discutiu a relação" com ele.

Esta é a brincadeira, mas Lázaro Ramos, de fato, representa muita gente hoje em dia – e o programa parece confiar nesta hipótese. No livro "Na Minha Pele", lançado este ano, ele observa que tem a responsabilidade de discutir "os desafios de ascender socialmente e se inserir em outra realidade sendo uma exceção".

Com a mulher, Taís Araújo, Lázaro Ramos representa uma voz contestadora, orgulhosa de suas origens, com a ambição de promover a inclusão e, como lembra no livro, de "não estimular a separação".

É isso que tenta, de certa forma, fazer no bem-humorado "Mister Brau" e que, acho, busca também em "Lazinho com Você": bom entretenimento com uma pitada de reflexão.

Um dos desafios do novo programa, que terá uma primeira temporada de apenas cinco episódios, é escapar do sentimentalismo (o quadro com o criador de uma escolinha de futebol para crianças sem opção de lazer na periferia esbarrou nisso). Outro risco, na sua busca por uma agenda positiva, é ficar com cara de ONG e esquecer que espectador pode estar buscando algo mais divertido e menos "poliana" na TV aberta neste horário.

Lázaro Ramos e sua equipe parecem atentos a este risco. Depois de ouvir várias pessoas passando mensagens positivas e solidárias, o apresentador perguntou: "Até que ponto é para a câmera, até que ponto é verdade?" É por aí…

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

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