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“Fantástico” destaca pesquisa que mostra a extensão do racismo no Brasil

Mauricio Stycer

03/12/2017 23h35


As recentes injúrias raciais sofridas pela filha dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank serviram de pretexto para uma reportagem contundente, de quase nove minutos, no "Fantástico" neste domingo (03). "Vamos falar sobre racismo? Você é um dos 108 milhões de brasileiros que presenciaram uma cena de racismo no último ano?", perguntou a repórter Sonia Bridi logo na abertura do programa.

Diante do casal de atores e de outras duas famílias vítimas recentes de racismo, a jornalista observou: "A discussão ganha visibilidade quando uma criança negra, adotada por brancos famosos, é atacada na internet. Mas é rotina no Brasil".

Os depoimentos foram entremeados por números de uma pesquisa sobre o assunto, realizada pelo Instituto Locomotiva. "Só 9% dos brasileiros reconhecem já terem sido racistas, mas 71% dos negros foram vítimas ou presenciaram situações de racismo no último ano".

A reportagem não fez alusão ao caso que envolveu o jornalista William Waack, apresentador do "Jornal da Globo", afastado no início de novembro depois que um vídeo o mostrou fazendo comentários de cunho racista para um colega. "Tá buzinando por quê, seu merda do cacete? Não vou nem falar, porque eu sei quem é… é preto. É preto!… Coisa de preto", diz Waack no vídeo, gravado em novembro de 2016 e divulgado um ano depois por Diego Rocha Pereira, então operador de VT da Globo, que se sentiu ofendido com os comentários.

Apesar de não citar o caso, dados da pesquisa apresentada por Sonia Bridi lembraram a situação. Segundo ela, "82% dos negros já ouviram alguma frase racista pelo menos uma vez na vida". E citou: "A mais repetida é 'o seu cabelo parece Bombril'. Mas o repertório é tristemente grande". E elencou os seguintes termos racistas citados pelos entrevistados: "Negro quando não c… na entrada, c… na saída", "seu macaco", "trabalho de preto", "volta pra África" e "volta pra senzala".

"Quando se chama alguém de macaco, você não está sendo engraçado, está sendo racista", observou Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, que tem entre os seus sócios o jornalista Marcelo Tas e o executivo Carlos Alberto Júlio.

A reportagem também buscou responder a quem minimiza as acusações de racismo. "Aquela expressão que eu acho odiosa, 'isso é mimimi', é uma total desqualificação daquilo que você está dizendo, que é sério e dói em você", disse um dos entrevistados, o educador André, pai de um menino que foi vítima de racismo. "Se você não quer acreditar no que estão dizendo, olhe os números", completou.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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