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Trama de O Outro Lado do Paraíso lembra filme americano; Globo nega plágio

Mauricio Stycer

06/11/2017 17h44


Uma das tramas principais de "O Outro Lado do Paraíso", o drama que envolve a personagem Elizabeth (Gloria Pires), tem muitos pontos de contato com "Madame X", um melodrama francês, escrito para o teatro por Alexandre Bisson, em 1908, e adaptado inúmeras vezes para o cinema.

Na novela de Walcyr Carrasco, Elizabeth é uma mulher de origem humilde que se casou com um diplomata, Henrique (Emilio de Mello), com quem tem a filha Adriana (Lara Cariello). Seu sogro, Natanael (Juca de Oliveira), julga que ela não está à altura do filho e da posição de embaixatriz. Por isso, arma uma armadilha para ela.

Com a ajuda de Jô (Barbara Paz), Natanael consegue que Elizabeth se aproxime e se envolva com Renan (Marcello Novaes). O empresário, porém, morre acidentalmente diante dela. O sogro aproveita a situação para chantageá-la e a convence a forjar a própria morte para não ser presa.

Todo este enredo soa familiar para quem assistiu à mais famosa adaptação de "Madame X", o filme com o mesmo título, de David Lowell Rich, de 1966, protagonizado por Lana Turner como Holly Parker e Ricardo Montalban como o amante, que morre acidentalmente.

Quem chantageia a personagem é sua sogra, Estelle (Constance Bennett). Ela sabe que a nora é inocente, mas vê na situação uma oportunidade para afastá-la do filho. E a solução encontrada é a mesma que veremos esta semana em "O Outro Lado do Paraíso": a personagem de Lana Turner simula a própria morte em um passeio de barco, deixando o marido, Clayton Anderson (John Forsythe) e o jovem filho pensando que ela morreu..

Vou poupar o leitor que não conhece "Madame X" dos desdobramentos deste enredo – um drama bem pesado. Mas, desde que a trama de Elizabeth na novela foi esboçada, inúmeros espectadores notaram que já a conheciam. Cito dois que me procuraram: Edenilson Lazaro e Luis Viches. Mas a reclamação pode ser encontrada nas redes sociais e nos perfis oficiais dedicados à novela.

Na visão da Globo, não há plagio. Em resposta a um questionamento do blog, a emissora respondeu: "A novela é produzida com base nas criações originais realizadas sob encomenda da TV Globo aos seus contratados. Como em toda obra, eventualmente podem existir referências comuns ao universo dramatúrgico."

Na minha opinião, as semelhanças com "Madame X" vão além de "referências comuns ao universo dramatúrgico". Parece inspiração pura e simples. Aliás, não é a primeira vez que Carrasco se inspira em obras prontas para escrever novela. A diferença, no caso, por exemplo, de "Êta Mundo Bom", é que a Globo comprou os direitos de "Candinho", filme de Mazaroppi, e deu crédito.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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