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Por que a Netflix não divulga os números de audiência de suas séries?

Mauricio Stycer

06/11/2017 11h19


Lançada pela Netflix em 27 de outubro, a segunda temporada de "Stranger Things" tem registrado números de audiência excepcionais. O primeiro episódio foi visto por 15,8 milhões pessoas nos primeiros três dias, nos Estados Unidos. Somente no primeiro dia, 361 mil pessoas assistiram aos nove episódios em sequência ("binge-watching").

Para se ter uma ideia do que estes números significam, o primeiro episódio da sétima temporada de "Game of Thrones", exibido este ano, foi visto por 16,1 milhões no primeiro dia. O primeiro jogo da final da MLB, a liga de beisebol americano, atraiu 15,4 milhões de espectadores ao vivo.

Apesar deste excelente resultado de "Stranger Things", a Netflix não reconhece os números divulgados. Eles foram medidos pelo Nielsen, o respeitado instituto que pesquisa a audiência de televisão nos EUA há décadas.

Desde que começou a produzir conteúdo original, e a despertar curiosidade do mercado, em 2013, a Netflix adotou como política não divulgar números de audiência. Como não depende de publicidade (é mantida, exclusivamente, pelos assinantes), a empresa entende que a popularidade de seus produtos é uma questão interna e que não deve satisfações a ninguém.

O Nielsen, porém, começou a medir a audiência das séries do serviço de streaming a revelia. Segundo o "New York Times", o instituto desenvolveu um software capaz de identificar, pelo áudio, o que os espectadores dos 44 mil domicílios que formam a sua amostra estão assistindo.

Foi com base nesta tecnologia que a empresa divulgou os primeiros números, excelentes, de audiência de "Stranger Things". A Netflix contesta este método –e tem razão, em parte dos seus argumentos.

O primeiro ponto é que a Nielsen está medindo apenas quem vê as séries do serviço de streaming em um aparelho de TV, ignorando os usuários que a conectam por dispositivos móveis, como laptops, tablets e smartphones. Outra questão é que a audiência das séries da Netflix é global e os dados da Nielsen se referem apenas ao mercado americano, que hoje representa menos de 50% dos 104 milhões de assinantes da empresa.

Por fim, como lembra a revista "Fortune", há mais uma razão para a Netflix não querer divulgar os seus números de audiência – e ela é bem simples: o segredo é uma ferramenta importante da empresa em sua estratégia de negócios e investimentos.

No momento em que os concorrentes conheçam estes números, eles estarão tendo informações sobre os hábitos dos clientes da Netflix e poderão intuir os próximos passos da empresa – e é isso, naturalmente, que ela não quer.

Comentários são sempre muito bem-vindos, mas o autor do blog publica apenas os que dizem respeito aos assuntos tratados nos textos.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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