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Grande acerto de Gloria Perez, trama de Ivana exige benevolência do público

Mauricio Stycer

28/07/2017 18h15


Costurada com carinho e cuidado por Gloria Perez desde o primeiro capítulo, a história de Ivana (Carol Duarte) finalmente deu um passo importante em "A Força do Querer". Justamente no capítulo 100, exibido na quinta-feira (27), a jovem conheceu Tê (Tarso Brant), cuja trajetória a fez entender que, assim como ele, é transgênero.

Depois de ouvir do rapaz que ele prendia os seios com faixas e se batia olhando no espelho, drama idêntico ao que vive, Ivana foi para casa pesquisar sobre o assunto na internet. Viu vídeos de mulheres que se trataram com hormônios para ficar com aparência masculina e, aliviada, disse: "Entendi."

A partir de agora vai começar outra etapa do drama, que é a da transformação da personagem, com todos os sofrimentos físicos e psicológicos envolvidos no processo.

A história de Ivana é a grande ação de responsabilidade social adotada por Gloria Perez nesta novela e envolve outros braços da Globo, entre as quais a série no "Fantástico" sobre crianças trans, apresentada por Renata Ceribelli, em março.

É um tema importante especialmente pela falta de informação geral a respeito dele e por conta dos preconceitos envolvidos. A autora de "A Força do Querer" tem o mérito de estar tratando do assunto sem a intenção de chocar. Ao contrário, buscando cumplicidade e compreensão do espectador.

Estou de acordo com tudo isso, mas não posso deixar de observar que é preciso alguma condescendência para aceitar a história tal como ela está sendo apresentada na novela. Ivana é uma jovem de classe alta, com acesso a boas escolas, psicóloga e todo tipo de informação.

É preciso "voar", como diz Gloria Perez, para considerar aceitável que a personagem somente agora, depois da conversa com Tê, tenha descoberto tudo sobre o assunto. Como já houve uma passagem de tempo na novela, Ivana está há mais de um ano sofrendo com o próprio corpo e fazendo sessões de terapia. Já dava para ela ter desconfiado de algo há mais tempo.

Mas tudo bem. Acredito que a lição que a novela está dando poderá ser útil para muitos – e é isso que importa.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.