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Demônio disfarçado de reality, “A Casa” diverte promovendo balbúrdia e caos

Mauricio Stycer

28/06/2017 00h08


O público que gosta de reality de confinamento, além de ser voyeur, é sempre um pouco sádico. Apreciar, sentado no sofá, o sofrimento dos participantes é parte essencial da diversão em qualquer programa deste tipo. Mas não me lembro de nenhuma atração do gênero que tenha sido criada com a intenção tão clara de explorar o sadismo do espectador quanto "A Casa".

A premissa é das mais desagradáveis. Uma casa de 120 metros quadrados, capaz de abrigar com conforto quatro pessoas, está recebendo 100 indivíduos. Como disse o apresentador Marcos Mion, trata-se de "um desafio nunca antes visto na televisão brasileira".

São quatro camas, quatro toalhas, dois banheiros e zero conforto. A tropa recebe água e comida diariamente para quatro pessoas. Se quiserem adquirir mais alimentos, são obrigados a gastar parte do futuro prêmio, de R$ 1 milhão. Assim, o valor prometido ao vencedor vai diminuindo a cada gasto.

Se o demônio se disfarçasse de reality show, ele assumiria as feições desta "A Casa". Um inferno completo. Serão três meses no ar, com exibição às terças e quintas.

Mion mostrou qualidades que outros apresentadores de realities na Record não costumam exibir. Já entrou na casa com um bom bordão ("Meus malucos favoritos"), riu dos participantes, fez coraçãozinho para eles e conversou, de maneira cúmplice, com o espectador. "Eu sou o único apresentador de reality show que tem que decorar 100 nomes".

Há algumas dificuldades envolvidas na gravação e captação das imagens e do som. Nem todos os participantes são ouvidos com a mesma qualidade.

Ao final do primeiro dia, ainda havia alguns participantes rindo. No segundo dia, acabou a graça. Três candidatas desistiram do desafio. Não suportaram o perrengue inicial. E o mau humor tomou conta do ambiente.

Audiência: Segundo dados do Ibope, "A Casa" registrou média de 8 pontos na estreia, um resultado 21% melhor ao alcançado na estreia da segunda temporada do "Power Couple" (6,6 pontos). A Record ficou em terceiro lugar no horário, atrás da Globo e do SBT.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.