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Casos de Família inventa preconceito a transexual para dar lição de tolerância

Mauricio Stycer

26/06/2017 15h20


Programa frequentemente acusado de encenar os casos supostamente reais que exibe, o "Casos de Família", do SBT, foi dedicado na última quarta-feira (21) ao drama da transexual Thalita Araujo (à dir. na imagem), que sofre preconceito dentro da própria família por conta de sua sexualidade.

"Nasci mulher em um corpo de homem… e adooooro, seu trouxa!" foi o tema da edição, apresentada por Christina Rocha. Adriana (centro), cunhada da Thalita, casada com o irmão dela, foi a personagem principal do programa, deixando claro o seu incômodo e preconceito. "Ele é travesti 24 horas, se veste de mulher. Eu não concordo com isso", disse. "Acho que é má influência para o meu filho", acrescentou Adriana.

Thalita contou um pouco de sua história, mas quem mais apareceu no programa, além da cunhada, foi a psicóloga Anahy D'Amico (à dir.), que deu várias lições sobre tolerância e a necessidade de compreender o outro. "A gente fala que temos que educar as crianças para a homossexualidade, mas tem adulto que precisa ser mais educado do que a própria criança", disse Anahy.

Foi um programa bem educativo, com a intenção de esclarecer o público e atenuar o preconceito contra travestis e transexuais. O único problema é que a situação foi totalmente encenada, segundo a própria Thalita. Em vários comentários em seu perfil no Facebook e em um grupo de transgêneros, enviados ao blog, ela explicou:

"Obrigado a todos vocês que me assistiram. O programa é todo combinado. Minha família, meus sobrinhos e a drag me amam. Referente a chamar de 'ele', foi tudo combinado. O bom do programa foi a parte da psicóloga informar a sociedade referente a transexualidade. O restante foi tudo um blábláblá sem proveito algum. Espero que tenha contribuído de alguma forma pra sociedade brasileira entender o nosso lado e tirar seus preconceitos e conservadorismo."

"Mesmo o programa sendo toda uma encenação e em partes ter rebaixado e desmerecido a nossa classe trans, espero ter contribuído de certa forma para a sociedade brasileira sobre a importância do tratamento hormonal com acompanhamento de endocrinologista e da nossa militância também na família e sociedade como um todo. Tirando a encenação de minha cunhada e da minha amiga drag, a psicóloga arrasou em suas palavras em defesa e da militância dos trans".

"O programa foi todo uma encenação. Minha cunhada e minha amiga me amam e me aceitam de coração, sem preconceito algum. Mas, infelizmente, é a realidade de algumas trans. E eu espero ter alertado ao povo brasileiro a ter menos preconceito com nós trans. Queremos apenas ser aceitos pela nossa família e sociedade como pessoas e cidadãos normais na sociedade."

Procurado, o SBT se exime de responsabilidade pelo que ocorreu e afirma: "'Casos de Família' tem uma missão social muito clara, por isso todas as histórias são e devem ser reais. Se no processo de seleção das histórias alguma pessoa inventa ou exagera um fato, mas todos os seus documentos de identidade, assim como os elementos que pertencem a essa história batem, dificilmente pode se comprovar que está criando essa história. A nossa seleção é através de entrevistas, e não com detector de mentiras."

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.