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Record comete três pecados ao transformar doença de Marcelo Rezende em show

Mauricio Stycer

15/05/2017 04h01


Sem apresentar o "Cidade Alerta" desde a sexta-feira, 5 de maio, Marcelo Rezende foi internado em um hospital em São Paulo três dias depois, na segunda-feira, 8, e voltou para casa na tarde de quinta-feira, 11.

Na final da noite desta mesma quinta, a Record começou a divulgar uma chamada para o "Domingo Espetacular", destacando um "depoimento emocionante" do apresentador "sobre o grande desafio que enfrenta agora, o maior de sua vida".

A chamada informava que Rezende havia gravado o depoimento "pouco antes de ser internado, no início da semana" (ou seja, na segunda-feira). No programa exibido neste domingo (14), ele revelou que tem um câncer no pâncreas, que irradiou para o fígado.

Como todos os seus fãs, desejo que Rezende tenha sucesso na luta contra a doença e se restabeleça o mais rápido possível. Mas, como jornalista dedicado ao mundo da TV, não posso deixar de observar que a Record transformou o drama do seu apresentador num espetáculo calculado para faturar audiência.

A emissora cometeu três pecados, na minha opinião. Primeiro, fez mistério e suspense por alguns dias sobre algo que já era do seu conhecimento. Segundo, de forma planejada, adiou a divulgação de uma informação de interesse público (a doença do apresentador), para tratá-la como uma notícia "exclusiva". Terceiro, deixou Rezende no ar por 21 minutos, uma pequena eternidade em matéria de TV, com o claro objetivo de segurar o espectador e emocioná-lo.

Tenho certeza que toda esta situação foi consentida pelo próprio apresentador do "Cidade Alerta". Mas isso não diminui o problema, na minha visão, que é transformar a doença em show.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.