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Fora da TV paga, emissoras perdem espectador com maior poder de consumo

Mauricio Stycer

31/03/2017 04h01


Os índices do Ibope, divulgados nesta sexta-feira (31), apontaram o tamanho do estrago causado pelo fim do sistema analógico – Record e SBT foram as emissoras mais prejudicadas. Parte desta oscilação, fruto da adoção do novo sinal, tende a ser corrigida nos próximos meses, quando se chegar a um índice mais próximo dos 100% de adaptação ao digital (hoje está em 90%).

Mais significativo, porém, pode ser o prejuízo que estas duas emissoras e a RedeTV! terão se ficaram por muito tempo fora da programação das operadoras de TV por assinatura.

Sem sucesso, por enquanto, na busca de remuneração por seus sinais, os três canais, representados pela Simba Content, exigiram que Net, Sky, Claro e Oi parassem de exibir suas programações. Enquanto durar o impasse, os assinantes destas operadoras precisam sair da TV paga e entrar na TV aberta para ver Record, SBT e RedeTV!.

Quem fará isso? Esta é uma grande incógnita. Mas há algumas pistas no ar. O perfil sócio-econômico do espectador que assiste a estes três canais via TV paga pode ajudar a entender o tamanho do problema.

O caso da Record, talvez a mais prejudicada, é um bom exemplo. Dados do Ibope em São Paulo indicam que o seu público é formado por mais mulheres (59%) do que homens (41%) – e esta proporção é quase idêntica entre quem vê a emissora com TV paga e pela TV aberta.

Em termos de idade, também há bem poucas variações entre os dois universos. Apenas na faixa de 35 a 49 anos é possível ver uma diferença maior – este grupo representa 28% dos espectadores da emissora com TV paga e 23% sem TV paga.

A grande diferença ocorre na situação econômica. Os espectadores das classes AB representam 39% do público da Record na TV paga e apenas 17% na TV aberta. É este público, o mais importante para o mercado publicitário, que está sem ver a emissora neste momento em que as operadoras de TV por assinatura suspenderam o sinal do canal.

Este espectador com situação econômica mais favorável vai deixar o ambiente da sua operadora e sintonizar na TV aberta para ver a Record? Há muitas dúvidas em relação a isso.

Suspeito que esta seja a questão mais incômoda para as emissoras da Simba neste momento, em particular para a Record. E pode ser esta pressão do mercado publicitário que ajude os dois lados a chegarem a um acordo.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.