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Quem ainda aguenta sequestro de mocinha em reta final de novela?

Mauricio Stycer

28/03/2017 05h01


Entre as muitas regras sobre como terminar uma novela, uma diz respeito ao calvário da mocinha: ela precisa sofrer até os 44 minutos do segundo tempo. Para isso, nada é melhor que um sequestro nos últimos capítulos. Funciona como a cereja no bolo, coroando tudo de ruim que aconteceu com ela ao longo de seis meses.

"A Lei do Amor", claro, não quis ser exceção. Nesta última semana, a atração da trama é o sequestro de Helô (Claudia Abreu) cometido por Magnólia (Vera Holtz) com a ajuda de Hércules (Danilo Granghéia). A ação realça a crueldade da vilã já que a mocinha está grávida e o bebê, assim que nascer, poderá salvar a outra filha dela, Letícia (Isabella Santoni), que precisa de um transplante de medula.

No último folhetim das 18h, "Sol Nascente", encerrado há uma semana, Cesar (Rafael Cardoso) ficou oito anos preso, mas assim que foi solto deu um jeito de sequestrar Alice (Giovanna Antonelli) e mantê-la em cativeiro até a metade do último capítulo. Já na última novela das 19h30, "Haja Coração", encerrada em novembro de 2016, Beto (João Baldasserini) solucionou o sequestro de Bia (Melissa Nóbrega), quase convencendo Tancinha (Mariana Ximenez) a ficar com ele, mas a mocinha preferiu Apolo (Malvino Salvador).

A lista de novelas recentes da Globo que tiveram sequestro nos últimos capítulos é enorme e, para citar apenas três títulos de cada horário (18h, 19h30 e 21h), inclui: "Êta Mundo Bom" (2016), "Além do Tempo" (2015-16), "Boogie Oogie" (2014-15), "Totalmente Demais" (2015-16), "I Love Paraisópolis" (2015), "Alto Astral" (2014-15), "A Regra do Jogo" (2015-16), "Babilônia" (2015) e "Império" (2014-15).

É como se os autores não assistissem às novelas dos colegas ou se sentissem realmente obrigados a incluir um sequestro no final de suas tramas. Uma recomendação para que pensassem em soluções alternativas seria muito bem-vinda.

Atualizado em 4 de maio
: Depois de "Sol Nascente" e "A Lei do Amor", últimas novelas da Globo encerradas, foi a vez da atual temporada de "Malhação" terminar com um sequestro, praticado pelo vilão Caio (Thiago Fragoso). Como é obrigatório, a situação foi solucionada no fim e Caio acabou preso. Nem a novelinha adolescente consegue escapar deste clichê obrigatório.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.