A audiência cresceu, mas não fez de “Sol Nascente” uma novela melhor
Há duas maneiras de ver "Sol Nascente". Uma, como uma novela que começou mal no Ibope e, após a imposição de algumas mudanças, conseguiu se recuperar e chegar ao final com números razoáveis. Outra, como um folhetim que, apesar da melhora na audiência, nunca foi, de fato, bom.
Entendo que o Ibope é a métrica mais importante para quem está diretamente envolvido na indústria de telenovelas. Não por acaso, a equipe de "Sol Nascente" se mostra muito feliz (ou aliviada) com o resultado final. A mais recente trama das 18h não poderá ser considerada como um fracasso.
Mas não escapou, na minha opinião, de ser uma novela fraca, mal estruturada, com uma história inconsistente e personagens desinteressantes.
Escrita inicialmente por Walther Negrão, Suzana Pires e Julio Fischer, "Sol Nascente" sofreu com os problemas de saúde justamente do autor mais experiente. Como informou o site Notícias da TV, Negrão deixou a novela depois de 24 capítulos apenas e Silvio de Abreu, diretor de teledramaturgia da emissora, supervisionou o texto desde outubro de 2016.
A trama girou em torno de quatro personagens principais, a executiva Alice (Giovanna Antonelli), o mecânico Mário (Bruno Gagliasso), o tatuador Ralf (Henri Castelli) e sua irmã Lenita (Letícia Spiller). Os quatro tinham uma característica em comum: a imaturidade extrema. Adolescentes tardios, deveriam ter sido vividos por atores dez anos mais jovens, no mínimo.
Em pouco tempo, foi possível entender que "Sol Nascente" seria uma novela com trama policial. Mas qual? Este foi outro problema. O golpe arquitetado por Sinhá (Laura Cardoso) e seu neto Cesar (Rafael Cardoso) sempre foi difícil de entender.
Inicialmente, o plano era usar a indústria de Tanaka (Luis Melo) para lavar dinheiro – isso numa novela das 18h. Depois, o golpe se mostrou mais complexo ainda – seria uma vingança de Sinhá contra o japonês. Ao final, a velhinha revelou que queria apenas o dinheiro de uma herança que Tanaka teria direito nos Estados Unidos. Somente uma continuação de "Sol Nascente" vai conseguir explicar direito esta história.
Em meio a isso tudo, havia o núcleo de italianos – o milionésimo núcleo de italianos em uma novela. Qual a função deles? Algumas piadas por conta da "mamma" Geppina (a ótima Aracy Balabanian no piloto automático) e do velho Gaetano (Francisco Cuoco risível com sotaque espanhol). E aquela penca de filhos e netos e agregados de sempre.
Completava a novela outro núcleo ainda mais exótico, o dos caiçaras – homens e mulheres que vivem da pesca, sob a liderança de uma sensitiva. Coube a Chica (Tatiana Tibúrcio), aliás, com uma visão, convencer Alice que Cesar era o vilão da história, algo que Mario tentou dizer, sem sucesso, durante cem capítulos.
Laura Cardoso fez bastante sucesso como a vilã Sinhá, mas isso se deve ao fato de a personagem, como observou Nilson Xavier, ter mergulhado no exagero e na caricatura. Sinhá foi, talvez, a única personagem que conseguiu escapar da linha convencional que marcou a novela e, por isso, surpreendeu e conseguiu divertir.
"Sol Nascente", enfim, não tinha muito o que dizer e, como entretenimento, deixou bastante a desejar.
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