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Correndo o risco de ficar chato, “Amor & Sexo” se assume como “telecurso”

Mauricio Stycer

03/03/2017 04h01


Pelos temas que apresenta desde 2009, "Amor & Sexo" sempre teve um pé ancorado no didatismo. Mas frequentemente conseguiu ser um programa muito lúdico e divertido. Na temporada que estreou no final de janeiro, a atração tem feito, em alguns episódios, uma opção radical – a de dar lições sérias sobre temas essenciais.

Foi assim no programa sobre feminismo, no qual todas as brincadeiras, dinâmicas e atividades propostas por Fernanda Lima tiveram o único propósito de abordar diferentes aspectos envolvidos num tópico maior – os direitos da mulher. Isso também ocorreu na edição dedicada ao machismo e, nesta quinta-feira (02), no episódio exclusivamente voltado ao universo LGBT.

Concordo com o crítico Nilson Xavier, para quem "Amor e Sexo" é um programa de utilidade pública por sua pregação contra o preconceito e a caretice. Mas acho que eventualmente derrapa no excesso de didatismo – o que acaba dificultando o debate de visões diferentes.

No início de fevereiro, comentando o programa dedicado aos direitos da mulher, escrevi na Folha:

Diferentemente de uma novela, que pode desdobrar um tema de responsabilidade social ao longo de muitos capítulos, um programa de auditório é limitado pelo tempo e pelo espaço. No caso específico desta edição de "Amor & Sexo", tive a impressão de estar assistindo a uma edição caprichada de "Telecurso" – talvez aquela dedicada ao antigo primeiro grau.

Fernanda Lima, ao apresentar o programa desta quinta, de alguma forma reconheceu a questão. Disse ela:

A título exclusivamente didático, pra aprender, entender e, consequentemente, respeitar o programa apresenta aqui o telecurso do gênero. E é claro que 50 minutos, que é o tempo desse programa, é sempre muito pouco para tanto assunto, mas esse panorama pode ajudar a gente a esclarecer um pouco, pelo menos.

Acho honesto da parte da apresentadora e da equipe que faz o "Amor & Sexo" falar abertamente sobre esta ambição didática e abrir mão da troca de ideias e do entretenimento em prol do esclarecimento. Mas não posso deixar de dizer que, como espectador, esperava mais.

Em tempo: Uma das atrações do programa foi a presença de Rodrigo Hilbert (acima), marido de Fernanda Lima, vestido como drag queen. "O Rodrigo é um homem cheio de atributos femininos… que ele cozinha todo mundo sabe, mas ele também passa, lava, cuida quase que integralmente das crianças nesse período em que estou gravando o Amor & Sexo e ainda faz tricô. Eu amo esse homem!", disse Fernanda.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.