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Por que a demissão de atores e jornalistas da Globo interessa tanto?

Mauricio Stycer

17/02/2017 04h01


Duas notícias com algo em comum ficaram entre as cinco mais lidas do UOL nesta semana. A primeira, do site Noticias da TV, anunciava: Apresentadora relata a dor e a alegria de se demitir da Globo após 19 anos. A segunda, do UOL TV e Famosos, informava: Ex-ator do "Zorra" deixa Globo após 26 anos para viver surdo na Record.

Notícias com teor semelhante – seja o rompimento de contrato de algum profissional com a Globo ou a contratação de um ex-profissional da emissora por uma concorrente – invariavelmente ficam entre as mais lidas do dia, mesmo quando se referem a figuras do segundo ou terceiro escalão.

O interesse extraordinário por notícias deste tipo é intrigante. Por que a ida do ator Renato Rabelo para a Record causa mais interesse, digamos, do que uma decisão do STF sobre um ministro do governo Temer ou uma informação de utilidade pública sobre o FGTS?

Contratações, demissões e aposentadorias fazem parte da trajetória profissional de todo mundo. Mas quem se interessa pela troca de emprego de um médico, de uma professora ou de um garçom? Só eles próprios, seus familiares e colegas.

De alguma maneira, temos a ilusão de que essas pessoas que entram na nossa casa pela televisão – atores, apresentadores, jornalistas – fazem parte da nossa vida, da nossa intimidade. Logo, os seus problemas na área de recursos humanos (contratação, demissão, licença por problemas de saúde) são também nossos problemas. Para não falar dos seus problemas pessoais (brigas, separações, divórcios), que igualmente nos atingem.

Não por acaso, outra notícia que esta semana ficou entre as mais lidas foi: Leila Cordeiro reencontra ex-noivo e admite que não imaginava amar de novo. Depois de 20 anos fora do Brasil, a jornalista que formou com Eliakim Araujo o clássico Casal 20 (e o Casal Telejornal do "TV Pirata") despertou enorme interesse ao arrumar namorado novo depois de ficar viúva.

Outra explicação diz respeito especificamente à Globo. Depois de muitos anos, a empresa parou de manter os seus funcionários com contratos longos, quase vitalícios. Ou seja, o seu RH passou a trabalhar muito mais. Por isso, nós, espectadores, estamos sofrendo mais com este vaivém de atores, de uma emissora para a outra ou, pior, da Globo para lugar nenhum.

Muita gente dirá que o interesse por este tipo de notícia é sinal de falta de assunto. Não é verdade. O noticiário anda bem rico e variado. Mas a movimentação no RH das emissoras de TV mexe especialmente com a gente.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.