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Por que os telejornais da Globo não citam o nome do PCC e de outras facções

Mauricio Stycer

16/01/2017 09h58

A cobertura jornalística do assassinato de 60 presos em um presídio em Manaus no primeiro dia de 2017 chamou a atenção, mais uma vez, para a postura dos telejornais da Globo. Por conta de uma regra interna, a emissora não menciona o nome de nenhuma facção criminosa.

Como a rebelião, a fuga e as mortes foram causados, tudo indica, por uma guerra entre diferentes facções, apresentadores e repórteres da Globo têm feito, desde então, um grande malabarismo vocabular (veja o vídeo acima). Tudo para não mencionar os nomes do PCC (Primeiro Comando da Capital) e da FDN (Família do Norte do Amazonas), acusados de estarem por trás da disputa que levou ao massacre. Esta mesma restrição se aplica ao noticiário de outras rebeliões ocorridas desde então.

Esta proibição foi estabelecida primeiro no jornal "O Globo", ainda na década de 1980, quando o Comando Vermelho, uma organização criminosa nascida no Rio, tomou o noticiário. A regra (não escrita) nasceu da percepção de que citar o nome destes grupos seria uma forma de dar publicidade a eles, valorizar ações criminosas, celebrizar a vida de pessoas acusadas por crimes graves e, eventualmente, estimular outras pessoas a seguirem o mau caminho.

Além da Rede Globo, a regra ainda é respeitada pelos telejornais da GloboNews, mas outros veículos do grupo já são mais flexíveis. Recentemente, o jornal "O Globo" passou a citar os nomes dos grupos criminosos. O site de notícias G1 também menciona. Em alguns casos, prevaleceu a ideia de que não é possível explicar uma guerra entre facções sem mencioná-las.

O blog tentou ouvir a emissora sobre o assunto, mas não obteve resposta. Seis jornalistas que trabalham ou já trabalharam no grupo me ajudaram com as informações aqui publicadas.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.