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Não é de hoje que a sigla SBT significa “Silvio Brincando de Televisão”

Mauricio Stycer

12/01/2017 04h01

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Mesmo de férias, na Flórida, Silvio Santos foi a figura mais citada esta semana no mundo da televisão brasileira. As idas e vindas na programação do SBT atingiram um clímax na terça-feira (10), quando a emissora informou, num intervalo de quatro horas, a estreia e o cancelamento de um telejornal vespertino na grade no lugar do "Chaves".

Quem acompanha Silvio Santos sabe que tudo ainda pode acontecer – desde a estreia do "Primeiro Impacto" na próxima semana, em outro horário, até mesmo o cancelamento, para sempre, da ideia.

Na qualidade de dono da emissora, Silvio não está nem aí para o fato de que as suas decisões (ou seriam indecisões?) afetam a credibilidade da emissora e deixam os seus diretores (programação, jornalismo, artístico e comercial) com cara de tacho. O empresário preza a sua intuição e, justificadamente, considera que entende mais do qualquer um sobre televisão.

O que os mais jovens não sabem, ou não lembram, é que Silvio sempre foi assim. Em 10 de julho de 1997, há quase 20 anos, pouco depois de Boris Casoy trocar a emissora pela Record, publiquei na "Folha" uma reportagem sobre um processo de reestruturação administrativa e de programação do SBT. Reproduzo a seguir alguns trechos:

A ordem e o horário dos programas do SBT a partir de 28 de julho foram definidos na última sexta-feira por Silvio Santos e seus assessores. Em seguida, o empresário entrou de férias.

Em conversas informais com a reportagem da Folha, funcionários e ex-funcionários do SBT manifestaram a desconfiança generalizada de que essa nova grade pode sofrer ainda muitas alterações.

Sob o compromisso de não terem os seus nomes revelados, essas pessoas relatam que Silvio Santos adota, às vezes, uma forma intempestiva e errática de gestão.

boriscasoysbtHá programas, como os de Serginho Groisman e Boris Casoy, que mudaram de horário mais de 20 vezes em alguns anos.

A história da emissora está repleta de programas que foram ao ar durante dois ou três meses – há até o caso de um jornalístico exibido por apenas três semanas.

Na semana passada, o programa "Jornal do SBT", que era apresentado por Leila Cordeiro e Eliakim Araújo, saiu do ar. Ninguém na emissora sabe informar se o programa voltará a ser exibido. A surpreendente justificativa oficial é que os dois estão de férias.

De volta a 2017. Nesta semana, depois da confusão causada pela estreia e cancelamento do "Primeiro Impacto", muita gente lembrou da piada sobre o significado da sigla SBT. No lugar de Sistema Brasileiro de Televisão, o mais correto seria "Silvio Brincando de Televisão". A questão, como mostrei, é que isso não é de hoje.

E mais. Mesmo brincando de fazer televisão, investindo pouco na produção de conteúdo original, reprisando "Chaves" e várias novelas mexicanas, o SBT segue firme na vice-liderança, à frente da Record, que tem investido bem mais em sua grade.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.