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Para não expor sofrimento, Esporte Interativo preserva parentes de vítimas

Mauricio Stycer

30/11/2016 17h52

Em uma decisão bastante incomum no Brasil, o Esporte Interativo deliberadamente não procurou para entrevistas familiares das vítimas do acidente com o avião da Chapecoense. O canal esportivo do grupo Turner entendeu que seria "mais importante respeitar o lado humano" do que "mostrar o sofrimento das pessoas"

O canal abriu mão de aumentar "um pouquinho a audiência", como disse Fabio Medeiros, diretor de Conteúdo, por entender que "os valores humanos estão acima de estratégias imediatas do canal". Segundo o executivo, o EI avaliou que os parentes das vítimas "não tinham informações que fossem relevantes para contribuir com a cobertura".

Ao longo da terça-feira (29), durante a cobertura e por meio das redes sociais, os espectadores foram informados da decisão do canal. Nem todo mundo entendeu: "Algumas pessoas chegaram a pedir ou questionar, nas redes sociais, sobre não estarmos mostrando as famíias. Nosso time de redes sociais foi orientado a explicar a cada uma desas pessoas sobre a nossa decisão e, quando a gente explicava, o retorno era sempre positivo".

O saldo, na visão da empresa, foi altamente positivo: "Recebemos também inúmeros e incontáveis elogios e mensagens de apoio pela decisão de pessoas do Brasil e também de outros países da América Latina. Muita gente elogiou… Foi um reconhecimento importante pra gente."

esporteinterativochapecoQuestionado pelo blog, Medeiros enviou o seguinte comentário sobre a decisão:

"A gente acha que num momento como esse, muita gente está sofrendo, inclusive a gente, mas quem está sofrendo mais, disparadamente, são as famílias. E no caso como o de ontem, as famílias não tinham informações que fossem relevantes para contribuir com a cobertura e com o que estávamos levando ao nosso público e aos fãs da Chapecoense e de esportes em geral. Nós tínhamos outros meios para apurar informações, até pelos contatos e acesso que uma empresa de comunicação tem. A chance de as famílias conseguirem mais informações que nós era muito baixa. Talvez, mostrar o sofrimento das pessoas, aumentasse um pouquinho a nossa audiência, mas achamos que o mais importante era respeitar o lado humano dessas pessoas. Os valores humanos, pra nós, estão acima de estratégias imediatas".

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.