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“Esquenta” troca caos e alegria do auditório por esforço para “emocionar”

Mauricio Stycer

16/10/2016 15h28

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Nas chamadas da nova temporada do "Esquenta", Regina Casé já havia alertado, com insistência, que o programa iria "emocionar" o espectador. A promessa se confirmou neste domingo (16), na estreia.

Um dos programas de auditório mais alegres e caoticamente libertários da TV aberta agora se parece com outras atrações que seguem a regra, escrita não sei por quem, de que domingo é dia de fazer a família chorar diante da televisão.

Não que o "Esquenta" tenha abandonado a sua fé em alguns princípios fundamentais, em especial, a ideia de que a televisão, sem abrir mão do entretenimento, tem a obrigação de ir além e fazer o espectador refletir sobre a realidade.

esquenta2016adocaoO programa deste domingo, por exemplo, falou sobre empregadas domésticas, obesidade e adoção. Mas tratou estes temas, importantes, como Luciano Huck, o "Fantástico" ou os concorrentes na Record e no SBT tratariam, de forma convencional e, em alguns momentos, apelativa.

O "Esquenta" agora, toda semana, se divide entre as cenas gravadas no auditório e outras registradas na casa de alguma família que se candidatou a receber a visita de Regina Casé.

O alerta de que havia algo errado foi dado ao ouvir a apresentadora dizer, ao entrar na casa de uma família de classe média alta de Fortaleza: "Isso é o Nordeste, isso é o Brasil". Como se soube, em seguida, a família Holanda contratou um decorador para arrumar a casa antes da chegada de Regina.

O tema principal da visita foi evocar a situação do filme "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylaert, no qual Regina interpreta uma emprega doméstica muito querida pela família.

Vera Lúcia, empregada há 36 anos na casa da família Holanda, falou longamente da sua experiência de almoçar junto com os patrões e passar mais tempo com eles do que com os próprios filhos.

esquenta2016emicidaJá no auditório, o cantor Emicida falou sobre sua mãe, Zilda, ter sido empregada doméstica. "Quando as pessoas me aplaudem, eu digo que estão aplaudindo ela. Ela foi o episódio que deu origem à série".

O rapper proporcionou um breve momento em que o novo "Esquenta" resgatou algo forte da antiga versão do programa – emoção natural, sem exagero ou esforço. Outro bom instante da estreia foi a conversa sobre obesidade, ilustrada pelas histórias de Cesar Menotti e Fabiano e os dois números musicais ("Gordinha", da dupla, e "Gordinha Luxo", com Walkiria Estarley).

A trilha sonora do programa, um dos pontos altos no passado, além de ter ficado bem mais enxuta, também perdeu no quesito originalidade. Mumuzinho cantou "New York, New York" e Péricles foi de "Emoções".

O novo "Esquenta" mudou com um objetivo claro e, a julgar pela estreia, foi bem efetivo. O programa emocionou bastante. Mas se tornou uma atração bem mais comum e pouco interessante.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.