Sem história, núcleos fracos e personagens bobos, "Sol Nascente" decepciona
Disposta a avaliar a recepção de "Sol Nascente", como faz com todas as suas novelas, a Globo ouviu cinco grupos de mulheres em São Paulo na última semana. De acordo com a coluna de Flavio Ricco, "ficou claro o desejo do público para que a novela se torne 'mais folhetim' e abra mais espaço para o romance e ação".
Este resultado, descrito por meu colega no UOL, evidencia um problema grave que tem me chamado a atenção na novela de Walther Negrão, Suzana Pires e Julio Fischer: "Sol Nascente" praticamente não tem história.
A novela apresenta uma colcha de situações, com poucas conexões entre elas, personagens sem maiores motivações e quase nada que estimule a curiosidade do público.
Qual história "Sol Nascente" quer contar? A de uma família italiana que, com medo da Máfia, foi se refugiar no litoral de São Paulo? E a de uma família de imigrantes japoneses, que vive na mesma cidade e enfrenta os conflitos entre assimilação à cultura local ou preservação de seus costumes? É isso?
Com todo respeito a Negrão, um dos mais experientes e bem-sucedidos autores de novelas, mas esses dois fiapos de história são insuficientes para manter a curiosidade pela novela. A da família italiana, em chave cômica, é a milionésima vez que se vê num folhetim da TV. A da família japonesa é menos comum, mas as questões levantadas até agora são desinteressantes e o ruído causado pela escalação de dois atores não-japoneses (Luis Melo e Giovanna Antonelli) transformou esse núcleo numa aberração.
Outro problema, na minha opinião, diz respeito à péssima caracterização de personagens essenciais. Não chega a ser incomum um adulto com cabeça de adolescente, mas em "Sol Nascente" isso parece ser regra – e é um incômodo para quem assiste.
O tatuador Ralf (Henri Castelli), sua irmã Lenita (Letícia Spiller) e o mecânico Mário (Bruno Gagliasso), para ficar apenas em três tipos importantes, são de uma imaturidade constrangedora. Não teria sido melhor escalar atores mais jovens? Ou caracterizar melhor o perfil dos personagens?
E o vilões Cesar (Rafael Cardoso) e sua avó Sinhá (Laura Cardoso)? Estão ali com a função, essencial, de criar conflitos e atrapalhar os heróis, mas alguém consegue entender por quê? Na falta de motivação clara (os negócios da dona de cassinos clandestinos), os autores se vêem obrigados a fazer os dois vilões explicarem tudo o que fazem para o público.
"Sol Nascente" conta, também, com um núcleo de "caiçaras", que vive da pesca, e é liderado por uma mulher, Chica (Tatiana Tibúrcio), com sensibilidade especial, capaz de intuir pensamentos e sentimentos. É um núcleo tratado, tanto pelo texto quanto pela direção, com um exotismo quase turístico – muito estranho em 2016.
Por fim, não posso deixar de observar que a caracterização de Francisco Cuoco como italiano é uma das piores que vi na televisão nos últimos anos — e olha que não faltam competidores neste quesito.
"Sol Nascente", enfim, tem sido uma decepção até agora. Parece mais uma novela destinada a preencher o horário com entretenimento elementar e audiência regular. Nenhuma ambição além disso.
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