Finais imprevistos, ambíguos e inconclusos reforçam o valor de “Justiça”
Por que a maioria das novelas e séries termina com final feliz para o herói e destino trágico para o vilão? Porque, de um modo geral, é isso que os espectadores esperam e os autores, para não decepcioná-los, entregam de mão beijada.
Manuela Dias, a autora de "Justiça", merece crédito por encerrar a sua série de forma menos convencional, com finais imprevistos, situações ambíguas e histórias inconclusas. Os quatro episódios tiveram desfechos que fugiram do óbvio.
O primeiro episódio termina com Regina (Camila Márdila) praticando tiro. O que significa? É uma sugestão que ela pretende matar Elisa (Debora Bloch), a quem responsabiliza pela morte do marido, Vicente (Jesuíta Barbosa). Vai conseguir? Nunca saberemos.
O segundo episódio tem um final feliz tradicional, quando Fatima (Adriana Esteves) é pedida em casamento por Firmino (Júlio Andrade) ao som de "Amor Perfeito". Mas o que aconteceu com sua filha? Mayara (Julia Dalavia) continuou na prostituição. "Sou de câncer com ascendente em Beyoncé. Nasci para brilhar", disse ela durante um programa com um gringo.
Outro personagem deste episódio teve um final ambíguo. Douglas (Enrique Diaz) desiste de se casar com a evangélica Irene (Clarissa Pinheiro) para voltar aos braços da prostituta Kellen (Leandra Leal). Ele tem consciência que está trocando uma vida correta por uma duvidosa, mas diz que não é capaz de resistir ao prazer da aventura.
O terceiro episódio também deixa algumas pontas em aberto. Débora (Luisa Arraes) finalmente conseguiu capturar e matar Osvaldo (Pedro Wagner), o homem que a estuprou, mas termina vagando por uma estrada. O que será que vai acontecer com ela? Reencontrará o marido? Vai conseguir adotar uma criança? Nunca saberemos.
Já Celso (Vladimir Brichita), o traficante e dono do bordel, termina feliz da vida com a mulher grávida, Rose (Jessica Ellen), apesar de ter sofrido um desfalque de Kellen ("Peguei meu FGTS"). O natural seria que este personagem tivesse um desfecho mais atribulado e não um final feliz.
O quarto episódio, igualmente, fugiu do convencional. Vania (Drica Moraes), responsável por arruinar o vilão, Antenor (Antonio Calloni), teve morte trágica. Já Mauricio (Cauã Reymond), que arquitetou o plano de vingança contra Antenor, termina sem saber o que fazer e, numa boa sacada, encontra a igualmente perdida Debora na estrada. Por fim, Teo (Pedro Nercessian), o filho do escroque, abusa do cinismo e mostra que vai seguir os passos do pai.
Como escrevi há três semanas, "Justiça" foi uma série muito acima da média, um dos grandes acontecimentos de 2016 na TV aberta, apesar de alguns problemas evidentes, inclusive no texto. Acho que Manuela Dias foi excessivamente didática e, às vezes, subestimou o espectador ao "desenhar" alguns dramas. Também, em certas situações, quis chocar o público a qualquer preço e encadeou drama atrás de drama de forma quase gratuita.
Mas nesta última semana, a autora deu a volta por cima, terminando a série de maneira inteligente e instigante, deixando o espectador sem respostas para tudo. Muito bom.
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