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Manifesto de artistas orientais pede o fim da “discriminação étnica” na TV

Mauricio Stycer

31/08/2016 14h22

solnascentegiovannaluismeloUm manifesto assinado por cerca de 200 artistas brasileiros de ascendência oriental será lançado na noite desta quarta-feira (31) em São Paulo. O texto pede o fim da "discriminação étnica que ocorre em algumas produções de audiovisual que retratam o oriental de forma estereotipada, preconceituosa e distorcida da realidade".

Não há nenhuma menção a "Sol Nascente" no texto que será lido em evento no espaço B_arco Centro Cultural. Mas a novela da Globo, que estreou nesta segunda-feira (29), foi o óbvio pretexto que levou a enorme comunidade de descendentes de japoneses, chineses e coreanos, entre outros, a se manifestar.

O motivo da indignação foi a escolha do elenco, em particular dos dois protagonistas do núcleo oriental da trama de Walter Negrão, Suzana Pires e Júlio Fischer – os atores Luis Melo e Giovanna Antonelli.

kenkaneko2O ator Ken Kaneko (imagem ao lado) chegou a ser cotado para o papel de protagonista, mas foi descartado, segundo Negrão, por causa da idade. Kaneko é dois anos mais jovem que Francisco Cuoco, o outro protagonista da trama. Sobre a escolha de Antonelli, o autor disse, em entrevista ao site Ego: "Tentamos achar nos testes uma protagonista japonesa, mas não encontramos uma com status de estrela. Eu precisava disso, a Globo queria uma estrela. Novela tem um custo muito alto, não dá para arriscar".

cristinasano"Luis Melo é um excelente ator. Nada contra ele nem contra a Globo", diz a atriz Cristina Sano (foto), conhecida por vários papeis em novelas da emissora, como "Roda de Fogo", "Bebê a Bordo", "Morde e Assopra". "A questão é da falta de representatividade. Todos estão muito indignados. Os japoneses estão ao fundo e o núcleo é a Antonelli e o Luis Melo".

Em sua página no Facebook, o grupo esclarece que "não é a favor de nenhum tipo de boicote ou movimento que vá contra a livre expressão e a democracia". Por outro lado, como diz no manifesto, o coletivo entende que "frente às desigualdades existentes, não basta rejeitar as práticas de discriminação, mas sim realizar ações que possam corrigir distorções e aproximar indivíduos".

Assinam o texto, entre outros atores, Ken Kaneco, Marcos Miura, Keila Fuke, Jui Huang e Maya Hasegawa. Abaixo, a íntegra do manifesto:

Manifesto do COLETIVO ORIENTE-SE no Brasil pela Igualdade Étnica

Nós, artistas e profissionais das artes com ascendência oriental, seja japonesa, chinesa ou coreana, reivindicamos por igualdade no tratamento justo a todos os cidadãos, repugnando práticas de discriminação étnica que ocorrem em algumas produções de audiovisual que retratam o oriental de forma estereotipada, preconceituosa e distorcida da realidade. Em especial para produções populares de rede aberta como novelas, seriados e comerciais que atingem a maioria da parcela dos cidadãos brasileiros, influenciam diretamente a sociedade promovendo às vezes, o conceito deturpado e negativo, denegrindo a imagem dos orientais e educando as novas gerações com a visão preconceituosa contra a nossa comunidade.

Somos parte integrante da sociedade brasileira, nascemos, vivemos e contribuímos com muito trabalho para o enriquecimento e desenvolvimento de nossa nação. Ter a presença de atores e artistas orientais em produções de audiovisual em papéis não estereotipados e de forma respeitosa, é o mínimo e o justo que a comunidade oriental brasileira merece em retribuição e gratidão por mais de um século de história em terras brasileiras. Somos brasileiros e exigimos respeito para com todos, independentemente de sua ascendência. A diversidade étnica, social
e/ou de gênero é fundamental e necessária para o crescimento de qualquer cidadão.

Entendemos que, frente às desigualdades existentes, não basta rejeitar as práticas de discriminação, mas sim realizar ações que possam corrigir distorções e aproximar indivíduos. É responsabilidade de cada um de nós brasileiros, promover a igualdade no cotidiano, através de nossos atos, trabalhos e postura. É de extrema importância que os profissionais que atuam diretamente na concepção e produção de obras de audiovisual, tenham a consciência de que a sua criação pode influenciar positivamente a nossa sociedade e difundir a diversidade. Cabe também a nós, artistas orientais brasileiros, fomentar a imagem positiva de nossa comunidade, através de nosso trabalho artístico, para que as futuras gerações possam se olhar com a autoestima de um cidadão brasileiro pertencente a esta nação.

A partir de 01.09.16, O Coletivo Oriente-se divulgará, semanalmente, um vídeo inédito através do Canal do Youtube (www.youtube.com/coletivoorientese) retratando o oriental como cidadão brasileiro, com dilemas, humor, drama e interagindo com outras etnias, afim de promover a diversidade humana!
São Paulo, 31 de agosto de 2016.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.