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Seleção para participar do “X Factor Brasil” vira um show de horror

Mauricio Stycer

11/07/2016 10h56


A seleção dos candidatos que participarão do "X Factor Brasil", realizada pela Band na Arena Corinthians, em São Paulo, neste domingo, foi um show de horror. Há centenas de relatos na página do programa no Facebook descrevendo o que parece muito mais um teste de resistência física do que musical.

Com estreia prevista para este segundo semestre, o "X Factor" é um famoso show de calouros com formato desenvolvido por Simon Cowell na Inglaterra e exportado para inúmeros países.

Segundo a Band, a seleção reuniu cerca de 30 mil pessoas no sábado e no domingo. Os relatos de participantes dão conta de espera de até 14 horas, em pé, em filas, para cantar brevemente para os jurados.

Além da desorganização, as queixas se estendem à falta de estrutura. Segundo os relatos havia apenas seis banheiros químicos à disposição das milhares de pessoas. Também há relatos de pessoas que teriam sido assaltadas nas intermináveis filas.

Para se ter uma ideia, reproduzo um testemunho dos mais amenos encontrados na página do programa, assinado por Juliano Casagrande:

"Eu não passei na audição com toda razão… Fiquei das 6:45 da manhã em pé com fome frio e dolorido, fui ouvido as 22:45 da noite por um senhor da tenda 12 que estava revoltado. Não dei o meu melhor … Fica registrado que eu moro em SP tranquilo, mas muita gente veio de outros estados e foram desrespeitados… X Factor Brasil um lixo".

Segundo os testemunhos, os candidatos rejeitados ganhavam uma marca "X" na mão, não removível com água, para evitar que voltassem à fila e tentassem passar no teste novamente. Como escreveu Thales Cardoso:

"Me perguntaram no metrô, enquanto eu estava voltando tarde da noite o que era aquele 'X' na minha mão. Tive que dizer: É que eu fiquei 15 hs dentro de um ônibus do ES pra cá para participar de um programa que recebeu dezenas de milhares de participantes e trataram cantores profissionais e amadores talentosos como lixo".

No momento da inscrição, aberta a participantes de todo o país, os candidatos enviavam um vídeo exibindo os seus dotes musicais. A Band, porém, não fez uma triagem e convocou todos os inscritos, com exceção dos que não atendiam aos requisitos, como idade mínima. Segundo a emissora, esse procedimento é comum em outros países que exibem o "X Factor".

Procurada na manhã desta segunda-feira (11), a assessoria da Band informou que está ciente dos problemas que ocorreram, mas ainda não decidiu se vai se manifestar a respeito.

Reproduzo abaixo o comentário de Gustavo Avelino, publicado na página do programa no Facebook. Ele afirma que foi selecionado. É impressionante:

"XFAIL BRASIL! NÃO FOI SOMENTE QUEM NÃO PASSOU QUE ESTÁ RECLAMANDO!
EU PASSEI, e to aqui também!

De longe a maior humilhação que passei na vida de artista até o dia de hoje.

Você chega em plenas 6h10 da matina num frio de 4º em Itaquera no estacionamento do estádio. Com milhares de pessoas já acampadas na sua frente pois eu era o número "2261" na senha. As audições programadas para as 8h00 da manhã mudam de rumo e acontecem às 13h00.

40.000 pessoas na fila. 40.000 pessoas que dependiam de 6 IMUNDOS banheiros químicos! Minha audição aconteceu as 22h00. Quase 20horas de PÉ! Era impossível sentar no chão escaldante mas o engraçado era que a ARENA suportaria toda aquela galera nas arquibancadas! Depois do grande frio, veio o puta Sol. E com o Sol, sede! Com a sede, banheiro. Eu realmente não competiria outra fila para ir no banheiro. Passei horas apertado e com sede pois se bebesse água daria vontade de ir no banheiro.

No regulamento dizia: traga amigos e familiares. Minha mãe que chegou comigo, recebeu a notícia as 16horas que não poderia mais entrar acompanhantes com os candidatos, por superlotação do espaço abaixo do estádio onde seriam as audições. Ela me esperou desde as 16h até as 23h00 sozinha pois eu não encontrava ela em nenhum lugar! Ambos sem bateria no celular. A encontrar depois foi milagre!

Na audição tínhamos no regulamento alguns minutos para contarmos 3 músicas! Eu e mais 5 pessoas compartilhamos uma mesma sala e cada um tinha direito a 30 segundos! Exatamente 30 segundos!
Uns passavam com um: "você passou, esteja as 6h aqui amanhã." Outros: "sua voz é boa, mas não foi dessa vez!"

Com aquele descaso! E eu digo uma coisa: A maior vitória não foi receber o "SIM" você passou. Foi na verdade enfrentar esse inferno que foi frio, Sol, muito calor, sede, querer ir no banheiro, má acomodação dentro da arena, e mal tratamento por parte da produção e seguranças.

Enfim, VOCÊ ACHA MESMO que eu COMPARECI hoje para a segunda fase do programa?

Que enfiem esse "Seja bem vindo ao XFACTOR" no meio do… de vocês.

ARTISTA NÃO É LIXO, não importa o tempo! Não importa se profissional ou se ama fazer aquilo!"


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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.